Os Churrascos do Tio Paulão
Aquele era o meu Tio Paulão! Todo churrasco de família ta lá o Tio Paulão: camiseta regata, “shorts” e latinha de Skol na mão. Ele vinha e abraçava seus sobrinhos.
“Eita! Homão grande esse aqui, hein! Terror das ‘menininha’!”, e desferia dois tapões nas costas da gente. “Firme! Firme!”, dava uma risada arranhada pelo Marlboro seguida de um gole na lata de cerveja ou uma beliscada na picanha recém-tirada do fogo. Sentávamos todos à mesa. Na mesa a conversa geralmente começava com algum assunto de família. “Não-sei-quem engravidou, não-sei-quem vai casar, não-sei-quem tá doente... “
Mas em algum dado instante do falatório alguém fazia um gancho para algum assunto fora da família, geralmente “a-capa-da-Veja”, “a-manchete-da-Folha” ou “a-notícia-do-Jornal-Nacional”. Era nessa hora que Tio Paulão nos deliciava com suas palavras. Tio Paulão era “doutor” e sabia das coisas. De aritmética a propulsão de foguetes estava gabaritado para opinar veementemente sobre tudo! “Esse seu professor da faculdade tá errado! Esse povo de universidade não sabe nada da vida!”. Por mais errôneos ou insensatos que parecessem ser seus argumentos, Tio Paulão está sempre certo porque afinal você está na casa do Tio Paulão que foi comprada com o dinheiro que ele suou para conseguir na firma que ele tem!
A firma! A firma era mais que o “ganha-pão” do Tio Paulão, era quase a epifania que ele teve para usar como alegoria em 70% das discussões que ocorriam nos churrascos em sua casa. “Essa coisa do orçamento, veja bem: eu tenho uma empresa e ela tem um orçamento...”, e dá-lhe o Tio Paulão a solucionar em dois cigarros e 3 latas de cerveja o problema da dívida externa brasileira ou a questão diplomática entre o Mercosul e a União Européia.
Pobre Tio Paulão! Tinha seus churrascos como abolidos por meus primos mais “moderninhos” como ele dizia. “Eu não sou racista! Eu nunca bati em preto!”... “Eu não sou machista! Eu nunca bati na Solange!”... “Homo o quê? Que é isso? Se o sujeito quer ser viado, que seja viado! Mas com as nega dele!”. Era o que Tio Paulão falava quando ouvia o mínimo sinal de protesto. “É por isso que o mundo tá essa pouca vergonha! Porque ninguém respeita ninguém mais! Tá todo mundo sem prumo na vida!”
Tio Paulão tava sempre certo! “Bandido tem que morrer!”, “Essa coisa de mulher ficar abrindo asinha falando que dá na TV não ta certo! Mulher tem que saber se portar!” e (a melhor de todas) “Essa história de cigarro, cigarro... Catzo! Eu fumo desde os quinze anos e nunca tive problema! É burrice essa história de cigarro faz mal! Esses cientista fazem as pesquisa tudo errada, tudo tendenciosa! (falava Tio Paulão, esbanjando liberdade poética abolindo o plural)”. Essa última era a melhor de uma forma triste: era a única que eu teimava (da maneira mais branda possível) com meu tio. Gostava dele e foi muito ruim vê-lo sendo enterrado por conta de um infarto. Tio Paulão morreu e os churrascos na sua casa não são os mesmos. Paulinho não fuma, bebe Kronenbier, só gosta de carne bem passada e (principalmente) detesta discussões.
Tio Paulão se foi, mas me encontro com ele todos os dias. “Ei guri! Olha aqui! Olha esse safado aqui: foi pego roubando a casa de uma família! Ainda bem que o pessoal da “dê-pê” pegou o danado pulando o muro! O pessoal da “puliça” já deu um trato nele olha aqui!”, “Dá uma olha nisso aqui, filho! O sem-vergonha fez a menina de boba! Iludiu a menina! Se aproveitou dela! Engravidou ela e agora não quer assumir a criança!” e “Mas é uma sacanagem! A dona dá pra todo mundo... é uma safada... e agora quer que o pobre coitado pague a pensão do filho que ela nem sabe se é dele!”. Lá estão os novos Tios Paulões. Vestidos de camisa social e gravata (uniforme da firma do Tio Paulão), a nova geração propaga pela televisão “a vida como ela realmente é”... assim como meu Tio Paulão gostaria de poder fazer!
Certamente Tio Paulão era o típico reacionário casca-grossa (por mais que dissesse que era contra a ditadura) que se encontra em muitos churrascos, mesas de jantar ou salas de escritório. Um tipo comum, fruto de uma criação X e de uma educação X que não é mérito nosso julgarmos (lembre-se da máxima da tolerância?).
Mas a nova geração, não há como negar, pega pesado saindo da sua sala de jantar para a sala de jantar de um cidadão que sofre de uma carência de valores e de identificação. Pegam pesado também com um arsenal persuasivo que vão da fabricação de uma figura paternalista que às vezes beira o caudilho (não é de se espantar que muitos Tios Paulões saiam a vereador, deputado ou prefeito) até a encenação, alusão ou até difusão de imagens ou fatos chocantes e escabrosos. Esses programas são um misto de churrasco de família e show de aberrações!
O que fazer? Regulamentar uma espécie de censura e controlar o conteúdo desses programas? A palavra “censura”, mesmo em suas formas mais amenas, é motivo de pânico e alvoroço. Seria muito fácil (e legitimo até) expor os entusiastas de uma censura a esse tipo de programas advogando lugares-comuns (o que aliás está bastante presente no discurso dos Tios Paulões). De uma maneira torpe (e ao mesmo tempo singela até) os Tios Paulões utilizariam a máxima da tolerância. E estariam certos: coloca-los no banco dos réus é tomar o lado diametralmente oposto da corda, o lugar dos politicamente corretos fundamentalistas...
segunda-feira, agosto 16, 2004
terça-feira, agosto 03, 2004
O mito da piñata
Em um galpão escuro estavam três homens: um executivo, um estudante universitário e um jornalista. Os três homens estavam munidos de pedaços de pau e sobre suas cabeças pairava uma piñata colorida, feita de papier-mâché e coberta de brocal, lantejoulas e todas aquelas coisas que as professoras de primário adoravam colocar em coisas com papier-mâché.
Não importava como era a piñata, afinal os três homens estavam vendados e embriagados de tequila (o estudante universitário ficou nesse estado apenas depois que tomou duas vezes a quantidade que o executivo e o jornalista tomaram juntos). Do jeito que estavam, poderia ter um céu de piñatas sobre suas cabeças que eles não notariam.
Trôpegos, levantavam seus pedaços de pau e davam golpes quase patéticos que geralmente apenas atingiam apenas a massa de ar que os rodeava (quando não acertavam acidentalmente uns aos outros). Depois de um tempo o executivo perguntou:
_ Alguém tem alguma noção de como arrebentar uma piñata?
_ Pô! Aí! Não sei cara... não sei nem o que é uma piñata! Pintei aqui só por conta da birita grátis! - respondeu o astuto estudante universitário
_ Pelo o que eu sei as piñatas são animais feitos de durepox. É uma expressão típica da cultura norueguesa, daí o fato de dentro dela haverem quibes! - respondeu eloqüentemente o jornalista.
Passaram mais algum tempo. O torpor da tequila já estava baixando, dando lugar a uma náusea banal. Apesar do incômodo enjôo os homens agora podiam ter um mínimo de senso de direção. Mesmo assim, suas tentativas de acertarem a piñata eram praticamente infrutíferas.
_ Meu Deus! Se pelo menos eu tivesse algum consultor, tudo seria mais fácil! Era só eu anotar tudo o que o consultor dissesse e fazer ao contrário!- reclamou o executivo
_ Putz, véi! Ah, nem! Mó cansera aí, ó! Caraí! - discursou efusivamente o estudante universitário
_ Acho que basta ficar andando em uma só direção até tocar a baqueta na piñata! - disse de maneira fria e calculista o jornalista. Pouco tempo depois acertou um golpe certeiro em algo. Era a cabeça do executivo.
O executivo levantou-se com uma grande dor de cabeça. Os outros dois ainda tentavam achar a piñata perdida na escuridão de suas vendas. O executivo, então cheio desta insólita situação, resolveu tirar a venda e acertar a piñata.
_ Acertei! Acertei! - gritou o executivo. Enchendo a mão com os mais diversos doces. Doces de todos os tipos: de goiaba, de marmelo e de batata doce. Doces embalados rusticamente em pedaços de palha, doces envoltos em celofane colorido e doces embalados em papel manteiga.
O universitário notou o que acontecera (afinal pensara em fazer a mesma coisa enquanto o executivo jazia inconsciente no chão do galpão), mas não protestou. Apenas pegou um doce da porção que havia dentro da piñata recém-quebrada, colocou na boca e se calou. (já havia entornado tantas garrafas de tequila que seria no mínimo insensato reclamar os doces do executivo!).
O jornalista deu os parabéns para o executivo e discursou sobre a falta de homens de visão que há neste vasto país. Pegou um doce e mordeu. Olhou de maneira confusa para os dois homens e exclamou:
_ Nossa! Nunca tinha visto quibe doce!
Em um galpão escuro estavam três homens: um executivo, um estudante universitário e um jornalista. Os três homens estavam munidos de pedaços de pau e sobre suas cabeças pairava uma piñata colorida, feita de papier-mâché e coberta de brocal, lantejoulas e todas aquelas coisas que as professoras de primário adoravam colocar em coisas com papier-mâché.
Não importava como era a piñata, afinal os três homens estavam vendados e embriagados de tequila (o estudante universitário ficou nesse estado apenas depois que tomou duas vezes a quantidade que o executivo e o jornalista tomaram juntos). Do jeito que estavam, poderia ter um céu de piñatas sobre suas cabeças que eles não notariam.
Trôpegos, levantavam seus pedaços de pau e davam golpes quase patéticos que geralmente apenas atingiam apenas a massa de ar que os rodeava (quando não acertavam acidentalmente uns aos outros). Depois de um tempo o executivo perguntou:
_ Alguém tem alguma noção de como arrebentar uma piñata?
_ Pô! Aí! Não sei cara... não sei nem o que é uma piñata! Pintei aqui só por conta da birita grátis! - respondeu o astuto estudante universitário
_ Pelo o que eu sei as piñatas são animais feitos de durepox. É uma expressão típica da cultura norueguesa, daí o fato de dentro dela haverem quibes! - respondeu eloqüentemente o jornalista.
Passaram mais algum tempo. O torpor da tequila já estava baixando, dando lugar a uma náusea banal. Apesar do incômodo enjôo os homens agora podiam ter um mínimo de senso de direção. Mesmo assim, suas tentativas de acertarem a piñata eram praticamente infrutíferas.
_ Meu Deus! Se pelo menos eu tivesse algum consultor, tudo seria mais fácil! Era só eu anotar tudo o que o consultor dissesse e fazer ao contrário!- reclamou o executivo
_ Putz, véi! Ah, nem! Mó cansera aí, ó! Caraí! - discursou efusivamente o estudante universitário
_ Acho que basta ficar andando em uma só direção até tocar a baqueta na piñata! - disse de maneira fria e calculista o jornalista. Pouco tempo depois acertou um golpe certeiro em algo. Era a cabeça do executivo.
O executivo levantou-se com uma grande dor de cabeça. Os outros dois ainda tentavam achar a piñata perdida na escuridão de suas vendas. O executivo, então cheio desta insólita situação, resolveu tirar a venda e acertar a piñata.
_ Acertei! Acertei! - gritou o executivo. Enchendo a mão com os mais diversos doces. Doces de todos os tipos: de goiaba, de marmelo e de batata doce. Doces embalados rusticamente em pedaços de palha, doces envoltos em celofane colorido e doces embalados em papel manteiga.
O universitário notou o que acontecera (afinal pensara em fazer a mesma coisa enquanto o executivo jazia inconsciente no chão do galpão), mas não protestou. Apenas pegou um doce da porção que havia dentro da piñata recém-quebrada, colocou na boca e se calou. (já havia entornado tantas garrafas de tequila que seria no mínimo insensato reclamar os doces do executivo!).
O jornalista deu os parabéns para o executivo e discursou sobre a falta de homens de visão que há neste vasto país. Pegou um doce e mordeu. Olhou de maneira confusa para os dois homens e exclamou:
_ Nossa! Nunca tinha visto quibe doce!
quarta-feira, junho 23, 2004
3 livros para botar a sua opção de habilitação em Comunicação Social em cheque (e mais 1 para fazer você ver o quanto a carreira acadêmica pode ser legal e você não precisa obrigatóriamente se tornar um professor tapado e frustrado)
Paraíso na Fumaça (Chris Simunek): Imagine que o jornalismo pode fugir da maldita rotina de redação. Imagine que você é pago para fazer matérias no mínimo divertidas em lugares incomuns e entrevistar pessoas no mínimo excêntricas. Chris Simunek é o editor de cultivo da High Times, uma revista voltada para a maconha e a cultura em torno da droga. O livro é divertidíssimo e não pense que se trata de uma versão literária do Planet Hemp: o livro passa bem longe do típico discurso à la D2. Simunek parece ser daquele tipo que possui um canivete na língua, as narrativas de suas experiências estão recheadas de insights sarcásticos. Nota: Simunek era originalmente professor de inglês em uma escola pública em Nova York, não tinha formação em jornalismo e foi contratado graças a um momento de sorte...
A Publicidade é um cadáver que nos sorri (Olivero Toscani): Estamos em um momento na publicidade onde a criação está sendo praticamente posta em segundo plano. Não em questão de escopo, mas em questão de desenvolvimento. A cada dia que passa as propagandas tendem para uma publicidade quase pavloviana. Temos quase que algoritmos para a mídia impressa (“o aproach fica aqui, o slogan ali, a chamada acolá...”) e o mesmo ocorre nas propagandas televisivas (jargõesinhos, apelos sexuais, visual demasiadamente acéptico...). Olivero Toscani ataca esta publicidade morna, burra e insossa tão em voga atualmente.
A Experiência do Cinema (Ismail Xavier): Trata-se de uma coletânea de textos de teóricos clássicos do cinema. Ismail Xavier coloca para os viajantes de primeira viagem textos de Hugo Mauerhofer Dziga Vertov, Hugo Munsterberg, Edgar Morin, André Bazin, Jean Epstein e muitos outros . O cinema é analisado pela suas técnicas, suas estéticas, suas habilidades poéticas e pela reação gerada pela sua fruição. “Ah! Mas isso é acadêmico e chato!”. Ah! Não gostou pega uma pilha de SET e vai ler...
Apocalípticos e Integrados (Umberto Eco): Um verdadeiro canivete suiço para quem se interessa por estética, cultura de massa, semiologia e principalmente estudos de cultura. Uma série de ensaios de Umberto Eco onde ele trata os assuntos praticamente como um advogado do diabo, botando na parede os típicos argumentos da intelectualidade acerca da cultura de massa e os lugares-comuns geralmente veiculados pela indústria cultural. Destaque para “A estrutura do mau gosto”.
Paraíso na Fumaça (Chris Simunek): Imagine que o jornalismo pode fugir da maldita rotina de redação. Imagine que você é pago para fazer matérias no mínimo divertidas em lugares incomuns e entrevistar pessoas no mínimo excêntricas. Chris Simunek é o editor de cultivo da High Times, uma revista voltada para a maconha e a cultura em torno da droga. O livro é divertidíssimo e não pense que se trata de uma versão literária do Planet Hemp: o livro passa bem longe do típico discurso à la D2. Simunek parece ser daquele tipo que possui um canivete na língua, as narrativas de suas experiências estão recheadas de insights sarcásticos. Nota: Simunek era originalmente professor de inglês em uma escola pública em Nova York, não tinha formação em jornalismo e foi contratado graças a um momento de sorte...
A Publicidade é um cadáver que nos sorri (Olivero Toscani): Estamos em um momento na publicidade onde a criação está sendo praticamente posta em segundo plano. Não em questão de escopo, mas em questão de desenvolvimento. A cada dia que passa as propagandas tendem para uma publicidade quase pavloviana. Temos quase que algoritmos para a mídia impressa (“o aproach fica aqui, o slogan ali, a chamada acolá...”) e o mesmo ocorre nas propagandas televisivas (jargõesinhos, apelos sexuais, visual demasiadamente acéptico...). Olivero Toscani ataca esta publicidade morna, burra e insossa tão em voga atualmente.
A Experiência do Cinema (Ismail Xavier): Trata-se de uma coletânea de textos de teóricos clássicos do cinema. Ismail Xavier coloca para os viajantes de primeira viagem textos de Hugo Mauerhofer Dziga Vertov, Hugo Munsterberg, Edgar Morin, André Bazin, Jean Epstein e muitos outros . O cinema é analisado pela suas técnicas, suas estéticas, suas habilidades poéticas e pela reação gerada pela sua fruição. “Ah! Mas isso é acadêmico e chato!”. Ah! Não gostou pega uma pilha de SET e vai ler...
Apocalípticos e Integrados (Umberto Eco): Um verdadeiro canivete suiço para quem se interessa por estética, cultura de massa, semiologia e principalmente estudos de cultura. Uma série de ensaios de Umberto Eco onde ele trata os assuntos praticamente como um advogado do diabo, botando na parede os típicos argumentos da intelectualidade acerca da cultura de massa e os lugares-comuns geralmente veiculados pela indústria cultural. Destaque para “A estrutura do mau gosto”.
terça-feira, junho 15, 2004
3 Filmes...
(não se trata de uma lista...)
"The Rules of atraction" (Roger Avery): Imagine uma típica comédia adolescente. Tire os momentos de humor pastelão, a piequice nojenta, o casal romântico "àgua com açucar" e a moral do final ("Dar valor aos amigos, à vida, à família, yadda-yadda-yadda..."). Coloque sarcasmo, ironia, ceticismo, cinismo e um olhar praticamente perverso. Imagine um filme com todos esses ingredientes montado de uma forma extremamente atemporal, subevertendo às vezes até os limites da narração psicológica. Um filme onde os próprios personagens satirizam a condição fútil e banal de suas existências.
"Alexander Nevsky" (Serguei Einsentein): Eisenstein é extremamente cultuado não só graças ao grande clássico "O encouraçado Potenkin" como também pelo seus diversos ensaios e trabalhos em que trata sobre cinema (em especial sobre a montagem). Talvez o seu trabalho mais vivo seja "O sentido do filme" e talvez o filme onde sua teoria se apresenta mais claramente é "Alexander Nevsky". Não se trata de um filme mudo, como seu trabalho mais famoso, e ao contrário de muitos que pecaram pela "tentação romanesca" (o uso indiscriminado e até desnecessário dos diálogos) Einsenstein fez um ótimo uso dos recursos sonoros. Esse filme dá uma idéia bastante clara da sintonia em que os elementos de um filme (enquadramento, som, atuação....) devem ter no decorrer do mesmo, dando ao filme a coesão necessária para que este se apresente como uma peça maciça. Destaque para a antológica cena da "Batalha no Gelo" (cena que aliás é literalmente destrinchada quadro-a-quadro em "O sentido do filme").
"Natural Born Killers" (Oliver Stone): Esse já é prata da casa. Um dos filmes que estão entre meus favoritíssimos. Oliver Stone dirigindo uma estória de Quentin Tarantino e com trilha sonora por Trent Reznor... precisa de mais alguma coisa? A defesa encerra!
(não se trata de uma lista...)
"The Rules of atraction" (Roger Avery): Imagine uma típica comédia adolescente. Tire os momentos de humor pastelão, a piequice nojenta, o casal romântico "àgua com açucar" e a moral do final ("Dar valor aos amigos, à vida, à família, yadda-yadda-yadda..."). Coloque sarcasmo, ironia, ceticismo, cinismo e um olhar praticamente perverso. Imagine um filme com todos esses ingredientes montado de uma forma extremamente atemporal, subevertendo às vezes até os limites da narração psicológica. Um filme onde os próprios personagens satirizam a condição fútil e banal de suas existências.
"Alexander Nevsky" (Serguei Einsentein): Eisenstein é extremamente cultuado não só graças ao grande clássico "O encouraçado Potenkin" como também pelo seus diversos ensaios e trabalhos em que trata sobre cinema (em especial sobre a montagem). Talvez o seu trabalho mais vivo seja "O sentido do filme" e talvez o filme onde sua teoria se apresenta mais claramente é "Alexander Nevsky". Não se trata de um filme mudo, como seu trabalho mais famoso, e ao contrário de muitos que pecaram pela "tentação romanesca" (o uso indiscriminado e até desnecessário dos diálogos) Einsenstein fez um ótimo uso dos recursos sonoros. Esse filme dá uma idéia bastante clara da sintonia em que os elementos de um filme (enquadramento, som, atuação....) devem ter no decorrer do mesmo, dando ao filme a coesão necessária para que este se apresente como uma peça maciça. Destaque para a antológica cena da "Batalha no Gelo" (cena que aliás é literalmente destrinchada quadro-a-quadro em "O sentido do filme").
"Natural Born Killers" (Oliver Stone): Esse já é prata da casa. Um dos filmes que estão entre meus favoritíssimos. Oliver Stone dirigindo uma estória de Quentin Tarantino e com trilha sonora por Trent Reznor... precisa de mais alguma coisa? A defesa encerra!
quinta-feira, junho 03, 2004
Das citações
Citações são as coisas que eu mais odeio em um texto. Logo que vejo uma citação já vejo 60% do crédito que o texto pode ter descendo pelo ralo.
É como se o narrador virasse para mim e falasse "Eu estou inseguro para provar o meu ponto de vista, então eu resolvi chamar esse "sr. Fodão" para me dar algum substrato. Você não vai discutir com o "sr. Fodão", vai?"
É um exemplo clássico de comportamento típico da cultura P.I.M.B.A. (Pseudo-intelectuais Metidos e Boçais Associados)... Mas mais P.I.M.B.A. é o fato de ainda se preocupar e procurar a maldita citação. "Eu procurei no Google, na biblioteca... Não achei essa maldita citação!". O "pesquisador" tira o escalpo do citante, que parte envergonhado (/quit).
Culpa das malditas agendas. Todo o dia ela abastece o repertório de milhares de "papagaios intelectuais" com sua quantidade diária de aforismos, versos e informações categóricas. É como se o China in Box vendesse como o Mc'Donalds e todos bilhetes de Biscoitos da Sorte fossem escritos por uma linha de produção composta por crianças superdotadas miseráveis de Singapura. Já pensou que seu surto de pretensão intelectual pode ser fruto do trabalho forçado de seres humanos que estão sacrificando sua infância por um prato de comida?
Você já é P.I.M.B.A., que custa ser politicamente correto?
Citações são as coisas que eu mais odeio em um texto. Logo que vejo uma citação já vejo 60% do crédito que o texto pode ter descendo pelo ralo.
É como se o narrador virasse para mim e falasse "Eu estou inseguro para provar o meu ponto de vista, então eu resolvi chamar esse "sr. Fodão" para me dar algum substrato. Você não vai discutir com o "sr. Fodão", vai?"
É um exemplo clássico de comportamento típico da cultura P.I.M.B.A. (Pseudo-intelectuais Metidos e Boçais Associados)... Mas mais P.I.M.B.A. é o fato de ainda se preocupar e procurar a maldita citação. "Eu procurei no Google, na biblioteca... Não achei essa maldita citação!". O "pesquisador" tira o escalpo do citante, que parte envergonhado (/quit).
Culpa das malditas agendas. Todo o dia ela abastece o repertório de milhares de "papagaios intelectuais" com sua quantidade diária de aforismos, versos e informações categóricas. É como se o China in Box vendesse como o Mc'Donalds e todos bilhetes de Biscoitos da Sorte fossem escritos por uma linha de produção composta por crianças superdotadas miseráveis de Singapura. Já pensou que seu surto de pretensão intelectual pode ser fruto do trabalho forçado de seres humanos que estão sacrificando sua infância por um prato de comida?
Você já é P.I.M.B.A., que custa ser politicamente correto?
segunda-feira, maio 17, 2004
segunda-feira, abril 26, 2004
sexta-feira, abril 16, 2004
Hiatus
Não... esse blog não será fechado em hipótese alguma. Escrevo aqui por prazer, e não deixaria de escrever aqui por conta de coisa alguma. O que acontece é que no momento tenho que equilibrar muitas coisas e realmente não venho tido tempo algum para sentar na frente do computador e escrever (aliás nem computador eu tenho tido para sentar na frente e escrever!)...
Possuo ainda alguns textos que não foram lançados aqui e que serão publicados assim que eu for para Goiânia...
Dentro de no máximo 1 mês (ou dependendo da minha habilidade com trabalhar sob pressão até menos) voltarei a postar aqui!
Se serve de consolo, prometo postar mais no meu outro blog, o "Life's FAQ"...
I'll be back... (já dizia The Governator)
Não... esse blog não será fechado em hipótese alguma. Escrevo aqui por prazer, e não deixaria de escrever aqui por conta de coisa alguma. O que acontece é que no momento tenho que equilibrar muitas coisas e realmente não venho tido tempo algum para sentar na frente do computador e escrever (aliás nem computador eu tenho tido para sentar na frente e escrever!)...
Possuo ainda alguns textos que não foram lançados aqui e que serão publicados assim que eu for para Goiânia...
Dentro de no máximo 1 mês (ou dependendo da minha habilidade com trabalhar sob pressão até menos) voltarei a postar aqui!
Se serve de consolo, prometo postar mais no meu outro blog, o "Life's FAQ"...
I'll be back... (já dizia The Governator)
sábado, abril 10, 2004
Utilidade Pública I
Minha república está com uma vaga sobrando. Somos 4 pessoas: a Lee, a Lory, , o Gus e eu.
O apartamento fica na SQN 404, perto do HUB e entre um Pão de Açúcar e um Big Box (que fica aberto 24 Horas). Contamos com ADSL, Tv à cabo e empregada semanalmente.
Os interessados devem mandar um email para mim (grungepaladin@yahoo.com.br) e marcar uma entrevista!
Brasil: Um país de todos!
Utilidade Pública II
Lembramos a proximidade do aniversário do autor desse blog... dia 23 de abril... E para quem anda perguntando o que eu quero...
- Aqueles livros massa da coleção "Baderna" (não da Vagalume...)
- "How the west was won" ou o "The song remains the same" do Led Zeppelin em DVD (pirateado mesmo!)
- "Pictures at an exibition" do Emerson, Lake and Palmer
- "Curtindo a vida adoidado" em DVD
- Ah, sei lá... tem um monte de coisa aí do lado... não sei porque você me encheu tanto o saco para botar esse lista de presentes aqui... (você mesmo que falou que descer uma ladeira dentro de um carrinho de compras seria uma boa idéia)...
Força Aérea Brasileira: asas de uma nação!
Minha república está com uma vaga sobrando. Somos 4 pessoas: a Lee, a Lory, , o Gus e eu.
O apartamento fica na SQN 404, perto do HUB e entre um Pão de Açúcar e um Big Box (que fica aberto 24 Horas). Contamos com ADSL, Tv à cabo e empregada semanalmente.
Os interessados devem mandar um email para mim (grungepaladin@yahoo.com.br) e marcar uma entrevista!
Brasil: Um país de todos!
Utilidade Pública II
Lembramos a proximidade do aniversário do autor desse blog... dia 23 de abril... E para quem anda perguntando o que eu quero...
- Aqueles livros massa da coleção "Baderna" (não da Vagalume...)
- "How the west was won" ou o "The song remains the same" do Led Zeppelin em DVD (pirateado mesmo!)
- "Pictures at an exibition" do Emerson, Lake and Palmer
- "Curtindo a vida adoidado" em DVD
- Ah, sei lá... tem um monte de coisa aí do lado... não sei porque você me encheu tanto o saco para botar esse lista de presentes aqui... (você mesmo que falou que descer uma ladeira dentro de um carrinho de compras seria uma boa idéia)...
Força Aérea Brasileira: asas de uma nação!
Sushi com fritas
“30% Off”, “Special Ribs”, “Summer Collection”, “Garage Sale”... em cada shopping um pedacinho de Miami (só faltam os aposentados e os republicanos). O abuso dos estrangeirismos ultrapassa a boçalidade até para os mais anti-ufanistas. Os puristas da língua clamam por uma lei que supostamente salvaria-nos da mácula do anglicismo na nossa língua pátria (sic). Os profetas do apocalipse lingüístico prevêem o nosso domínio através da língua. Parece que somos uma prostituta de rua ao lado de um “gringo” pervertido, atendendo um a um seus pedidos escatológicos e suas taras depravadas. Parece que somos a “favorita da casa” de um bordel formado por outros países que se encontram em igual dependência econômica. E é assim que nós perdemos nossa tão valorizada “identidade nacional”...
O debate em torno do estrangeirismo na língua e da perda de nossa “identidade nacional” é algo temperado com muito ufanismo misturado a um “maniqueísmo de esquerda”. A luta (porque todo embate que eles encontram pela frente eles chamam de “luta”) contra a invasão através da língua possui um país como símbolo: a França. O país possui uma legislação que regula o uso dos estrangeirismos além de valorizar a cultura francesa. No entanto, os defensores da luta dos franceses contra a invasão anglo-saxã ocultam o histórico de hostilidades e que existe entre as duas culturas além do preconceito velado mútuo (são como brasileiros e argentinos, só que com ótimos padrões de vida e moeda única estável)
Deixemos de lado a situação brasileira e francesa para analisar um outro país. Um país sinônimo de grande desenvolvimento econômico, tecnologia e tradição cultural (como a França): o Japão.
Quando falamos no Japão pensamos em pagodes com paredes finas e brancas, abrigando simpáticas famílias vestidas em quimonos tomando chá verde de maneira quase cerimonial em singelas cerâmicas milenares. Algo tão estúpido de nossa parte quanto nossa odiada imagem de país pitoresco e exótico. O Japão é um país com um panorama intrigante, onde o oriental e o ocidental se misturou de forma que ambos ficaram fixados sem um sobrepor o outro.
O Japão sofre com a influência ocidental (em especial a americana) tanto quanto nós ou pior. A questão do estrangeirismo lingüístico se dá de uma certa maneira reversa ao usual: lá dá-se o nome de produtos em função de sua tradução para o inglês, por exemplo Shapiro-Penciro (lapiseira, que em inglês se chama Sharp Pencil) ou Walku Machinuru (walk-machine). Este fenômeno pode ser explicado como sendo uma mera facilidade no comércio do país com o resto do mundo.
O japonês é dislumbrado com o ocidental. As adolescentes japonesas pintam o cabelo de loiro e fazem bronzeamento artificial enquanto os garotos enaltecem as imagens de James Dean, Marlon Brando (antes de se tornar o que conhecemos hoje...) e outros. A juventude japonesa cultua o momento mais característico da cultura americana: os anos 50. Este fenômeno é muito bem retratado em uma cena do filme “Kill Bill”, do diretor americano Quentin Tarantino, em que em uma espécie de clube noturno as típicas salas de reunião (daquelas onde se tira os sapatos para entrar e sentar em almofadas para tomar chá) contrasta com um palco logo abaixo onde ocorre um show de uma banda rockabillie. Se achar o dado refutável por se tratar de uma peça de ficção, lembre-se de “Hype!” (documentário que retrata a cena grunge) na parte em que mostram como foi a turnê dos Young Flesh Fellows no Japão: jovens com topetes, jaquetas de couro, “motocas”, saias rodadas e dançando como Jerry Lee Lewis.
A relação do Japão com a invasão da cultura ocidental parece ser bem pacífica até então. Como se trata de um país com uma cultura própria bem sedimentada através de milênios, a tão temida “invasão” se torna um mal distante e inofensivo, que só atinge países jovens e subdesenvolvidos. Podemos constatar então que o episódio ocorrido durante a crise asiática em que meninas de classe média alta se tornavam garotas de programa para manter o nível de consumo que estavam acostumadas (padrões de consumo praticamente basais como Prada, Yves Saint-Laurent, Pierre Cardin...) não tem nada haver com o típico consumismo norte-americano. O japonês consome por compulsão a ponto de produzir uma quantidade de sucata eletrônica muitas vezes maior que muitos países do mundo. Lançamentos de games, discos, vídeos e outras coisas do gênero são motivos para filas quilométricas (quem se lembra da fila de lançamento de Final Fantasy V que causou problemas e fez necessária a presença da polícia).
O caráter intrusivo da cultura americana, adotada como padrão da indústria cultural (uma vez que seus maiores representantes são americanos) não é uma exclusividade de país subdesenvolvidos com seus bonecos de barros e carrancas de madeira. É um fenômeno global, que atinge a todas as nacionalidades de uma forma perversamente democrática.
“30% Off”, “Special Ribs”, “Summer Collection”, “Garage Sale”... em cada shopping um pedacinho de Miami (só faltam os aposentados e os republicanos). O abuso dos estrangeirismos ultrapassa a boçalidade até para os mais anti-ufanistas. Os puristas da língua clamam por uma lei que supostamente salvaria-nos da mácula do anglicismo na nossa língua pátria (sic). Os profetas do apocalipse lingüístico prevêem o nosso domínio através da língua. Parece que somos uma prostituta de rua ao lado de um “gringo” pervertido, atendendo um a um seus pedidos escatológicos e suas taras depravadas. Parece que somos a “favorita da casa” de um bordel formado por outros países que se encontram em igual dependência econômica. E é assim que nós perdemos nossa tão valorizada “identidade nacional”...
O debate em torno do estrangeirismo na língua e da perda de nossa “identidade nacional” é algo temperado com muito ufanismo misturado a um “maniqueísmo de esquerda”. A luta (porque todo embate que eles encontram pela frente eles chamam de “luta”) contra a invasão através da língua possui um país como símbolo: a França. O país possui uma legislação que regula o uso dos estrangeirismos além de valorizar a cultura francesa. No entanto, os defensores da luta dos franceses contra a invasão anglo-saxã ocultam o histórico de hostilidades e que existe entre as duas culturas além do preconceito velado mútuo (são como brasileiros e argentinos, só que com ótimos padrões de vida e moeda única estável)
Deixemos de lado a situação brasileira e francesa para analisar um outro país. Um país sinônimo de grande desenvolvimento econômico, tecnologia e tradição cultural (como a França): o Japão.
Quando falamos no Japão pensamos em pagodes com paredes finas e brancas, abrigando simpáticas famílias vestidas em quimonos tomando chá verde de maneira quase cerimonial em singelas cerâmicas milenares. Algo tão estúpido de nossa parte quanto nossa odiada imagem de país pitoresco e exótico. O Japão é um país com um panorama intrigante, onde o oriental e o ocidental se misturou de forma que ambos ficaram fixados sem um sobrepor o outro.
O Japão sofre com a influência ocidental (em especial a americana) tanto quanto nós ou pior. A questão do estrangeirismo lingüístico se dá de uma certa maneira reversa ao usual: lá dá-se o nome de produtos em função de sua tradução para o inglês, por exemplo Shapiro-Penciro (lapiseira, que em inglês se chama Sharp Pencil) ou Walku Machinuru (walk-machine). Este fenômeno pode ser explicado como sendo uma mera facilidade no comércio do país com o resto do mundo.
O japonês é dislumbrado com o ocidental. As adolescentes japonesas pintam o cabelo de loiro e fazem bronzeamento artificial enquanto os garotos enaltecem as imagens de James Dean, Marlon Brando (antes de se tornar o que conhecemos hoje...) e outros. A juventude japonesa cultua o momento mais característico da cultura americana: os anos 50. Este fenômeno é muito bem retratado em uma cena do filme “Kill Bill”, do diretor americano Quentin Tarantino, em que em uma espécie de clube noturno as típicas salas de reunião (daquelas onde se tira os sapatos para entrar e sentar em almofadas para tomar chá) contrasta com um palco logo abaixo onde ocorre um show de uma banda rockabillie. Se achar o dado refutável por se tratar de uma peça de ficção, lembre-se de “Hype!” (documentário que retrata a cena grunge) na parte em que mostram como foi a turnê dos Young Flesh Fellows no Japão: jovens com topetes, jaquetas de couro, “motocas”, saias rodadas e dançando como Jerry Lee Lewis.
A relação do Japão com a invasão da cultura ocidental parece ser bem pacífica até então. Como se trata de um país com uma cultura própria bem sedimentada através de milênios, a tão temida “invasão” se torna um mal distante e inofensivo, que só atinge países jovens e subdesenvolvidos. Podemos constatar então que o episódio ocorrido durante a crise asiática em que meninas de classe média alta se tornavam garotas de programa para manter o nível de consumo que estavam acostumadas (padrões de consumo praticamente basais como Prada, Yves Saint-Laurent, Pierre Cardin...) não tem nada haver com o típico consumismo norte-americano. O japonês consome por compulsão a ponto de produzir uma quantidade de sucata eletrônica muitas vezes maior que muitos países do mundo. Lançamentos de games, discos, vídeos e outras coisas do gênero são motivos para filas quilométricas (quem se lembra da fila de lançamento de Final Fantasy V que causou problemas e fez necessária a presença da polícia).
O caráter intrusivo da cultura americana, adotada como padrão da indústria cultural (uma vez que seus maiores representantes são americanos) não é uma exclusividade de país subdesenvolvidos com seus bonecos de barros e carrancas de madeira. É um fenômeno global, que atinge a todas as nacionalidades de uma forma perversamente democrática.
quarta-feira, março 24, 2004
As melhores do Devil's Dictionary, de Ambroise Bierce
ME, pro. The objectionable case of I. The personal pronoun in English has three cases, the dominative, the objectionable and the oppressive. Each is all three.
MERCY, n. An attribute beloved of detected offenders.
EGOTIST, n. A person of low taste, more interested in himself than in me.
EDUCATION, n. That which discloses to the wise and disguises from the foolish their lack of understanding.
ENTERTAINMENT, n. Any kind of amusement whose inroads stop short of death by injection.
IDIOT, n. A member of a large and powerful tribe whose influence in human affairs has always been dominant and controlling. The Idiot's activity is not confined to any special field of thought or action, but "pervades and regulates the whole." He has the last word in everything; his decision is unappealable. He sets the fashions and opinion of taste, dictates the limitations of speech and circumscribes conduct with a dead-line.
CARNIVOROUS, adj. Addicted to the cruelty of devouring the timorous vegetarian, his heirs and assigns.
VANITY, n. The tribute of a fool to the worth of the nearest ass.
RADICALISM, n. The conservatism of to-morrow injected into the affairs of to-day.
REBEL, n. A proponent of a new misrule who has failed to establish it.
Gostou?Clica aqui!
N?o gostou?
MAD, adj. Affected with a high degree of intellectual independence; not conforming to standards of thought, speech and action derived by the conformants from study of themselves; at odds with the majority; in short, unusual. It is noteworthy that persons are pronounced mad by officials destitute of evidence that themselves are sane. For illustration, this present (and illustrious) lexicographer is no firmer in the faith of his own sanity than is any inmate of any madhouse in the land; yet for aught he knows to the contrary, instead of the lofty occupation that seems to him to be engaging his powers he may really be beating his hands against the window bars of an asylum and declaring himself Noah Webster, to the innocent delight of many thoughtless spectators.
ME, pro. The objectionable case of I. The personal pronoun in English has three cases, the dominative, the objectionable and the oppressive. Each is all three.
MERCY, n. An attribute beloved of detected offenders.
EGOTIST, n. A person of low taste, more interested in himself than in me.
EDUCATION, n. That which discloses to the wise and disguises from the foolish their lack of understanding.
ENTERTAINMENT, n. Any kind of amusement whose inroads stop short of death by injection.
IDIOT, n. A member of a large and powerful tribe whose influence in human affairs has always been dominant and controlling. The Idiot's activity is not confined to any special field of thought or action, but "pervades and regulates the whole." He has the last word in everything; his decision is unappealable. He sets the fashions and opinion of taste, dictates the limitations of speech and circumscribes conduct with a dead-line.
CARNIVOROUS, adj. Addicted to the cruelty of devouring the timorous vegetarian, his heirs and assigns.
VANITY, n. The tribute of a fool to the worth of the nearest ass.
RADICALISM, n. The conservatism of to-morrow injected into the affairs of to-day.
REBEL, n. A proponent of a new misrule who has failed to establish it.
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N?o gostou?
MAD, adj. Affected with a high degree of intellectual independence; not conforming to standards of thought, speech and action derived by the conformants from study of themselves; at odds with the majority; in short, unusual. It is noteworthy that persons are pronounced mad by officials destitute of evidence that themselves are sane. For illustration, this present (and illustrious) lexicographer is no firmer in the faith of his own sanity than is any inmate of any madhouse in the land; yet for aught he knows to the contrary, instead of the lofty occupation that seems to him to be engaging his powers he may really be beating his hands against the window bars of an asylum and declaring himself Noah Webster, to the innocent delight of many thoughtless spectators.
quarta-feira, março 17, 2004
Bizarrices Regionais
As grandes redes abertas de TV talvez sejam o alvo mais fácil na discussão acerca da problemática da massificação na mídia brasileira. Geralmente vistas como arautos da globalização, as redes abertas são apontadas como agentes homogenizadores da opinião pública e da identidade brasileira. A imagem nacional retratada na TV aberta é de um Brasil que geralmente não passa de um grande eixo Rio - São Paulo - Salvador.
O problema parece ser um grande monstro de 7 cabeças, no entanto ele é facilmente resolvido. As redes de TV são obrigadas, por lei, a ceder uma quantidade de horários voltados para uma programação regional. “Glória, glória! Terá espaço para todos. Do Boi Bumba às rodas de chimarrão!”, diriam os amantes das culturas regionais de cada canto do país. Mas o que ocorre é bem diferente do real intuito da lei. A programação regional é recheada geralmente de programas que não passam de imitações grotescas dos mais batidos programas da TV aberta. O que ocorre é que temos novos Ratinhos, Marcias e Leões com inúmeros sotaques.
Quem mora em Goiânia conhece o programa “Altos Papos”. Um programa de “variedades” com uma apresentadora que poderia ilustrar o verbete “emergente” de um dicionário. O programa mais parece um chá das 5 com toda uma aura “nouveau riche”. As variedades tratadas no programa poderiam ser substituídas pela transcrição de um diálogo em qualquer salão de beleza. Em Brasília, pode-se assistir um programa nos mesmos moldes mas com um nome mais inusitado: “Mais que emergente”. O congênere brasiliense ainda conta com o luxo de eventuais externas e entrevistas de rua.
Outro grande filão dos programas regionais são as mesas redondas. O mais impressionante destes programas talvez não seja a capacidade de se opinar tanto sobre esportes tendo-se tantas camadas adiposas, mas sim a capacidade de se opinar tanto sobre tudo baseando-se em conceitos que beiram a ingenuidade. Fala-se não apenas sobre futebol mas também sobre política local, segurança e até questões de ordem social. Se fecharmos os olhos e continuarmos a ouvir o programa poderemos imaginar uma porção de pasteizinhos e alguns copos de cerveja quase vazios.
Mas ainda existem na fauna de programas regionais os famosos “formadores de opinião”. Jornalistas, em sua maioria, que vêm a público para iluminar a ignóbil audiência com suas palavras sensatas e sinceras, dando-lhes noção do que se passa por trás da cortina da política e da economia, mistérios unicamente decifrados por ele graças aos seus inúmeros diplomas nas mais diversas ciências. Suas opiniões são cobertas por um prosaísmo e um pragmatismo que beiram a estupidez, seus textos são de uma demagogia mista a uma pieguice que fazem um populista de carteirinha se sentir ultrajado e seu conhecimento dos fatos tratados são da profundidade de um pires. Uma figura que ilustra bem este caso é o jornalista goiano Rosenwall Ferreira, sujeito quase cômico que fala sobre os mais diversos assuntos como se estivesse em um boteco em um discurso demagogo e marcado por uma forçada informalidade.
São muito comuns nas programações regionais também programas do tipo “mundo cão”. Esses programas são de uma truculência visual tamanha que chegam a infringir direitos humanos. Os apresentadores entrevistam os delinqüentes em meio a chacotas e as mais diversas humilhações inclusive forçar o criminoso a destampar o rosto (o que constitui não só uma violação do seu direito como ser humano como sobre sua imagem). Programas desse tipo apresentam um outro caráter extremamente nocivo: são o retrato de um pensamento retrógrado de que a razão da criminalidade encontra-se em si mesma, justifica silenciosamente a execução sumária e apóia veladamente a pena de morte como solução para o “extermínio da bandidagem”.
O problema da programação regional não está na questão do que vem sido veiculado, mas do que poderia estar sendo. O colunismo social, a crítica futebolística de várzea, o pseudo-jornalismo crítico demagogo e a truculência policial ocupam o espaço que era destinado a uma programação de valor local. No caso da TBC – Cultura em Goiânia esse caso é ainda pior, pois a prestigiada e premiada programação da Fundação Padre Anchieta encontra-se minada com esta espécie de circo de horrores. Muitos programas culturais e informativos são perdidos em nome de uma expressão pseudo-regional. É extremamente estúpido que Goiânia, um lugar em recente (e crescente) expansão do meio independente não possua um programa nos moldes do “Alto-Falante” apresentado na Rede Minas. Em seu lugar, temos uma fauna de apresentadores bizarros e programas bisonhos.
O problema na programação regional é o mesmo que em qualquer meio de comunicação de massa: está relegado à lei de oferta e procura. O patrocinador deseja audiência certa, e não arriscar-se com programas que fujam da lógica do “panis et circenses” televisivo. Se o regional se constituir em uma mistura de emergentes, comentaristas obesos, polemistas de mesa de jantar e justiceiros da classe média... que venha o grande Rio - São Paulo - Salvador . Pelo menos eu vou ter acarajé com chopps...
As grandes redes abertas de TV talvez sejam o alvo mais fácil na discussão acerca da problemática da massificação na mídia brasileira. Geralmente vistas como arautos da globalização, as redes abertas são apontadas como agentes homogenizadores da opinião pública e da identidade brasileira. A imagem nacional retratada na TV aberta é de um Brasil que geralmente não passa de um grande eixo Rio - São Paulo - Salvador.
O problema parece ser um grande monstro de 7 cabeças, no entanto ele é facilmente resolvido. As redes de TV são obrigadas, por lei, a ceder uma quantidade de horários voltados para uma programação regional. “Glória, glória! Terá espaço para todos. Do Boi Bumba às rodas de chimarrão!”, diriam os amantes das culturas regionais de cada canto do país. Mas o que ocorre é bem diferente do real intuito da lei. A programação regional é recheada geralmente de programas que não passam de imitações grotescas dos mais batidos programas da TV aberta. O que ocorre é que temos novos Ratinhos, Marcias e Leões com inúmeros sotaques.
Quem mora em Goiânia conhece o programa “Altos Papos”. Um programa de “variedades” com uma apresentadora que poderia ilustrar o verbete “emergente” de um dicionário. O programa mais parece um chá das 5 com toda uma aura “nouveau riche”. As variedades tratadas no programa poderiam ser substituídas pela transcrição de um diálogo em qualquer salão de beleza. Em Brasília, pode-se assistir um programa nos mesmos moldes mas com um nome mais inusitado: “Mais que emergente”. O congênere brasiliense ainda conta com o luxo de eventuais externas e entrevistas de rua.
Outro grande filão dos programas regionais são as mesas redondas. O mais impressionante destes programas talvez não seja a capacidade de se opinar tanto sobre esportes tendo-se tantas camadas adiposas, mas sim a capacidade de se opinar tanto sobre tudo baseando-se em conceitos que beiram a ingenuidade. Fala-se não apenas sobre futebol mas também sobre política local, segurança e até questões de ordem social. Se fecharmos os olhos e continuarmos a ouvir o programa poderemos imaginar uma porção de pasteizinhos e alguns copos de cerveja quase vazios.
Mas ainda existem na fauna de programas regionais os famosos “formadores de opinião”. Jornalistas, em sua maioria, que vêm a público para iluminar a ignóbil audiência com suas palavras sensatas e sinceras, dando-lhes noção do que se passa por trás da cortina da política e da economia, mistérios unicamente decifrados por ele graças aos seus inúmeros diplomas nas mais diversas ciências. Suas opiniões são cobertas por um prosaísmo e um pragmatismo que beiram a estupidez, seus textos são de uma demagogia mista a uma pieguice que fazem um populista de carteirinha se sentir ultrajado e seu conhecimento dos fatos tratados são da profundidade de um pires. Uma figura que ilustra bem este caso é o jornalista goiano Rosenwall Ferreira, sujeito quase cômico que fala sobre os mais diversos assuntos como se estivesse em um boteco em um discurso demagogo e marcado por uma forçada informalidade.
São muito comuns nas programações regionais também programas do tipo “mundo cão”. Esses programas são de uma truculência visual tamanha que chegam a infringir direitos humanos. Os apresentadores entrevistam os delinqüentes em meio a chacotas e as mais diversas humilhações inclusive forçar o criminoso a destampar o rosto (o que constitui não só uma violação do seu direito como ser humano como sobre sua imagem). Programas desse tipo apresentam um outro caráter extremamente nocivo: são o retrato de um pensamento retrógrado de que a razão da criminalidade encontra-se em si mesma, justifica silenciosamente a execução sumária e apóia veladamente a pena de morte como solução para o “extermínio da bandidagem”.
O problema da programação regional não está na questão do que vem sido veiculado, mas do que poderia estar sendo. O colunismo social, a crítica futebolística de várzea, o pseudo-jornalismo crítico demagogo e a truculência policial ocupam o espaço que era destinado a uma programação de valor local. No caso da TBC – Cultura em Goiânia esse caso é ainda pior, pois a prestigiada e premiada programação da Fundação Padre Anchieta encontra-se minada com esta espécie de circo de horrores. Muitos programas culturais e informativos são perdidos em nome de uma expressão pseudo-regional. É extremamente estúpido que Goiânia, um lugar em recente (e crescente) expansão do meio independente não possua um programa nos moldes do “Alto-Falante” apresentado na Rede Minas. Em seu lugar, temos uma fauna de apresentadores bizarros e programas bisonhos.
O problema na programação regional é o mesmo que em qualquer meio de comunicação de massa: está relegado à lei de oferta e procura. O patrocinador deseja audiência certa, e não arriscar-se com programas que fujam da lógica do “panis et circenses” televisivo. Se o regional se constituir em uma mistura de emergentes, comentaristas obesos, polemistas de mesa de jantar e justiceiros da classe média... que venha o grande Rio - São Paulo - Salvador . Pelo menos eu vou ter acarajé com chopps...
terça-feira, março 09, 2004
Metablogagem I
O assunto blog é um tema extremamente confuso quando se trata da análise desse fenômeno. Uma das poucas áreas de produção livres e espontâneas ou mais um tentáculo da tão temida cultura de massa? Forma de expressão válida ou mera futilidade egocêntrica? Temos um tema extremamente confuso e principalmente tendente à parcialidade (principalmente quando tratado por um blogueiro).
Quais os ganhos que alguém tem na publicação de um blog? Quais os gastos? Basicamente zero. A independência da questão financeira é algo que nos faz pensar que o blog possui uma maior espontaneidade. Um blog, a priori, é um espaço livre para a expressão de coisas suas que vão do seu colega de sala que te enche até um ensaio sobre um tema que você seja familiarizado. Ou seja, do ponto de vista da produção de um blog a ligação dele com a mídia de massa se torna estúpida. Como os blogs podem ser encarados como produtos sendo que a questão da reprodutividade não se aplica a eles. No entanto, o fenômeno não se finda com a sua produção. E quem está do outro lado? Qual a real natureza da sua fruição? Estas são questões muito complexas, afinal não isso é algo impossível de se avaliar. Isso mostra que a análise de um blog depende (às vezes) muito dos seus leitores do quem produz o blog.
Algo muito comum de ocorrer entre aqueles que ligam os blogs à cultura de massa é a questão de que estes se encontram hospedados em servidores de empresas participantes da “elite-má” do capitalismo. Esse é um argumento no mínimo maniqueísta que ignora o fato de que o conteúdo de um blog não é influenciado pelo “dono do servidor”. É claro que o espaço que usamos para publicar nossos blogs não é uma dádiva da boa-vontade dos servidores, a maioria dos blogs possuem banners de propaganda em seus cabeçalhos. Na minha opinião, um preço bastante razoável para poder exercer de forma mais abrangente minha liberdade de expressão.
A crítica aos blogs muitas vezes se dá de uma maneira muito vinculada àquela batida dicotomia “dominadores e oprimidos”. Os oprimidos, que não possuem acesso à internet, são privados do fenômeno “blog”, logo os blogs são mais uma das perversas formas de exclusão das beatificadas minorias. Esta é uma crítica que tropeça de maneira tosca em um maniqueísmo cego que não enxerga que mesmo as mais bem intencionadas vanguardas nasceram em berço de ouro (sem querer elevar os blogs ao status de vanguarda, mas pelo menos como forma de expressão).
Falando em vanguarda, alguns vêem a escrita concisa e objetiva dos blogs como sendo uma tendência. Tal afirmação é carregada de uma inocência deslumbrada. A escrita concisa comum aos blogs tem um caráter muito mais funcional do que estilístico. Escrever conteúdo para internet demanda de uma certa objetividade (assim como quase todo meio de comunicação de massa) que é mais acentuada nesse meio devido ao desconforto de se ler um texto em um monitor (aliás seguindo esta ótica da funcionalidade, eu realmente não entendo como este blog de textos ainda é visitado). O velho e batido argumento de que a concisão leva à superficialidade é uma generalização típica de pessoas que não notam que na escrita a forma não denomina o conteúdo.
Podem não serem maravilhas da criação humana, mas os blogs permitem que as pessoas se expressem de forma livre na internet. A maioria das pessoas enxergam os blogs como sendo diários pessoais fúteis e sem propósito, criações que giram em torno do narcisismo de seus escritores ou um espaço para se implantar uma rede de intrigas análoga aos grupinhos de 2º grau (quando as pessoas de 20 e tantos anos transcenderão seus 15?). Sim, a maioria dos blogs são assim e seria uma estupidez tremenda falar o contrário. No entanto, resumir-se a meramente sentar na frente do computador e criticar a superficialidade alheia é algo igualmente estúpido. Alguns blogs mostram isso, servindo de espaço para expressão e discussão dos mais diversos temas. O exemplo mais evidente para mim vem de uma área completamente desprovida de qualquer vínculo com a comunicação (no seu aspecto de ciência): INFORMÁTICA. Pessoas que escrevem sobre TI e seus mais diversos temas saíram da clausura das listas de discussões e dos newsgroups para expor suas idéias em canal aberto a fim de serem conhecidos e discutidos. Se acham que autores de blogs são apenas adolescentes (e pós-adolescentes) pseudo-intelectuais metidos a rebeldes se enganam, eles também podem ser senhores dos seus 30 ou 40 anos que ganham salários de 5 dígitos e estão se lixando se o João Gordo é ou não um traidor do movimento punk.
O fenômeno blog está em franco definhamento, isso é visto com aquela visão típica de decadência. Eu não concordo, ultimamente tenho conhecido blogs bem escritos e extremamente interessantes. A hegemonia dos blogs cor-de-rosa e de cliques piscantes está em crise graças aos fotologs (esses sim, viraram em grande parte depósito de futilidades). Através da diversidade dos blogs nós temos idéia tanto da diversidade quanto da tendência à lugares-comuns que temos enquanto produtores e consumidores das mais diversas formas de comunicação (mainstream, underground, popular...). Talvez uma coisa seja ponto comum no que tange os blogs: seja num diário de um rebelde-sem-causa ou num coletivo anarquista, o feed-back é essencial!
O assunto blog é um tema extremamente confuso quando se trata da análise desse fenômeno. Uma das poucas áreas de produção livres e espontâneas ou mais um tentáculo da tão temida cultura de massa? Forma de expressão válida ou mera futilidade egocêntrica? Temos um tema extremamente confuso e principalmente tendente à parcialidade (principalmente quando tratado por um blogueiro).
Quais os ganhos que alguém tem na publicação de um blog? Quais os gastos? Basicamente zero. A independência da questão financeira é algo que nos faz pensar que o blog possui uma maior espontaneidade. Um blog, a priori, é um espaço livre para a expressão de coisas suas que vão do seu colega de sala que te enche até um ensaio sobre um tema que você seja familiarizado. Ou seja, do ponto de vista da produção de um blog a ligação dele com a mídia de massa se torna estúpida. Como os blogs podem ser encarados como produtos sendo que a questão da reprodutividade não se aplica a eles. No entanto, o fenômeno não se finda com a sua produção. E quem está do outro lado? Qual a real natureza da sua fruição? Estas são questões muito complexas, afinal não isso é algo impossível de se avaliar. Isso mostra que a análise de um blog depende (às vezes) muito dos seus leitores do quem produz o blog.
Algo muito comum de ocorrer entre aqueles que ligam os blogs à cultura de massa é a questão de que estes se encontram hospedados em servidores de empresas participantes da “elite-má” do capitalismo. Esse é um argumento no mínimo maniqueísta que ignora o fato de que o conteúdo de um blog não é influenciado pelo “dono do servidor”. É claro que o espaço que usamos para publicar nossos blogs não é uma dádiva da boa-vontade dos servidores, a maioria dos blogs possuem banners de propaganda em seus cabeçalhos. Na minha opinião, um preço bastante razoável para poder exercer de forma mais abrangente minha liberdade de expressão.
A crítica aos blogs muitas vezes se dá de uma maneira muito vinculada àquela batida dicotomia “dominadores e oprimidos”. Os oprimidos, que não possuem acesso à internet, são privados do fenômeno “blog”, logo os blogs são mais uma das perversas formas de exclusão das beatificadas minorias. Esta é uma crítica que tropeça de maneira tosca em um maniqueísmo cego que não enxerga que mesmo as mais bem intencionadas vanguardas nasceram em berço de ouro (sem querer elevar os blogs ao status de vanguarda, mas pelo menos como forma de expressão).
Falando em vanguarda, alguns vêem a escrita concisa e objetiva dos blogs como sendo uma tendência. Tal afirmação é carregada de uma inocência deslumbrada. A escrita concisa comum aos blogs tem um caráter muito mais funcional do que estilístico. Escrever conteúdo para internet demanda de uma certa objetividade (assim como quase todo meio de comunicação de massa) que é mais acentuada nesse meio devido ao desconforto de se ler um texto em um monitor (aliás seguindo esta ótica da funcionalidade, eu realmente não entendo como este blog de textos ainda é visitado). O velho e batido argumento de que a concisão leva à superficialidade é uma generalização típica de pessoas que não notam que na escrita a forma não denomina o conteúdo.
Podem não serem maravilhas da criação humana, mas os blogs permitem que as pessoas se expressem de forma livre na internet. A maioria das pessoas enxergam os blogs como sendo diários pessoais fúteis e sem propósito, criações que giram em torno do narcisismo de seus escritores ou um espaço para se implantar uma rede de intrigas análoga aos grupinhos de 2º grau (quando as pessoas de 20 e tantos anos transcenderão seus 15?). Sim, a maioria dos blogs são assim e seria uma estupidez tremenda falar o contrário. No entanto, resumir-se a meramente sentar na frente do computador e criticar a superficialidade alheia é algo igualmente estúpido. Alguns blogs mostram isso, servindo de espaço para expressão e discussão dos mais diversos temas. O exemplo mais evidente para mim vem de uma área completamente desprovida de qualquer vínculo com a comunicação (no seu aspecto de ciência): INFORMÁTICA. Pessoas que escrevem sobre TI e seus mais diversos temas saíram da clausura das listas de discussões e dos newsgroups para expor suas idéias em canal aberto a fim de serem conhecidos e discutidos. Se acham que autores de blogs são apenas adolescentes (e pós-adolescentes) pseudo-intelectuais metidos a rebeldes se enganam, eles também podem ser senhores dos seus 30 ou 40 anos que ganham salários de 5 dígitos e estão se lixando se o João Gordo é ou não um traidor do movimento punk.
O fenômeno blog está em franco definhamento, isso é visto com aquela visão típica de decadência. Eu não concordo, ultimamente tenho conhecido blogs bem escritos e extremamente interessantes. A hegemonia dos blogs cor-de-rosa e de cliques piscantes está em crise graças aos fotologs (esses sim, viraram em grande parte depósito de futilidades). Através da diversidade dos blogs nós temos idéia tanto da diversidade quanto da tendência à lugares-comuns que temos enquanto produtores e consumidores das mais diversas formas de comunicação (mainstream, underground, popular...). Talvez uma coisa seja ponto comum no que tange os blogs: seja num diário de um rebelde-sem-causa ou num coletivo anarquista, o feed-back é essencial!
sexta-feira, fevereiro 27, 2004
Cinema Brasileiro: ame-o ou deixe-o
Daqui há alguns dias o mercado de fogos de artifício irão passar por um momento de franca elevação. A razão disso: o filme “Cidade de Deus”, filme brasileiro que teve até hoje o maior número de indicações da Academia, vai disputar o Oscar. Já podemos ver grupos de amigos sentados à frente da TV, com trombetas, buzinas de spray, pom-pons e tudo que uma seleção teria direito. O Brasil se torna por um dia a pátria de claquetes, todo brasileiro é um diretor.
O filme “Cidade de Deus” é certamente um dos melhores filmes brasileiros já feitos. Eu arriscaria colocá-lo no patamar de “Macunaíma”, “Eles não usam black-tie”, “Limite” e outros grandes clássicos do cinema brasileiro. “Cidade de Deus” é um filme gostoso de assistir do ponto de vista narrativo e visual. Fruto dessa época atual do cinema brasileiro, onde a tecnologia se tornou um pouco mais acessível do que naquele tempo da “sonoplastia de caixa de papelão”, “Cidade de Deus” possui uma fotografia belíssima e um trilha sonora extremamente bem montada.
É muito bom saber que meus compatriotas concordam comigo que “Cidade de Deus” é um bom filme e que merece ganhar o Oscar por isso! Pelo menos seria...
Um grande problema que eu vejo no Cinema Brasileiro é o seu público. Para uma boa parte do público de cinema nacional não existe um filme bom ou ruim, existe um filme brasileiro ou estrangeiro. Eu vejo que a peça cinematográfica perde em parte seu valor artístico em detrimento de sua origem. “Nossa! Como você não gostou de tal filme? É um filme brasileiro!”... E daí? Isso não é justificativa...
Infelizmente quem tem mais a perder com isso é o próprio cinema brasileiro. Neste frenesi de “Viva o Cinema Brasileiro!” (“Cinema Brasileiro” com iniciais maiúsculas, como um nome próprio) muitas produções de baixíssima qualidade vêm sido aplaudidas pelo grande público e por um público dito “conceituado”. Um exemplo disso foi “Dom”, um filme medíocre com atores globais e trilha sonora com ícones das rádios FM. O grande mérito foi ter ambientado a trama do clássico “Dom Casmurro” em um cenário atual. Acontece que “Dom Casmurro” é um livro atemporal e universal, grande coisa ter sido ambientado no Brasil de 2003 ou na Inglaterra da Era Vitoriana. O filme “Romeu + Julieta”, de 1996, tinha essa mesma proposta e trazia no elenco Leonardo di Caprio sofreu críticas por ter dado ao clássico de Shakespeare uma roupagem extremamente comercial e apelativa. Por que não foram feitas as mesmas críticas a “Dom”? Atualmente está em cartaz o filme “A cartomante”, baseado no conto homônimo de Machado de Assis e estrelado por várias estrelas globais dentre elas a “gostosona da vez” Débora Secco. O que esperar da crítica?
Há algum tempo atrás eu havia dito em um texto que tínhamos muito o que aprender com o cinema argentino. O cinema dos hermanitos explora com muita riqueza o universo da classe média, a classe mais psicologicamente castigada. Talvez foi seguindo uma linha de pensamento parecida que Luís Fernando (conceituado diretor de novelas, peças e miniséries) gravou “Sexo, Amor e Traição”. Quem já viu o trailer, o cartaz e o próprio nome não precisa de se esforçar muito para ver que trata-se de uma xerox fiel do argentino “Sexo, Pudor e Lágrimas”. Mais uma vez a análise do filme pende muito mais para o patriotismo do que para a arte.
Infelizmente perdeu-se o bom senso da análise de um filme brasileiro pelo filme e não pelo brasileiro. O bom senso ultrapassa a barreira do previsível. Basta lembrarmos do Oscar de 1999 quando o país gritava marmelada porque “Central do Brasil” perdeu o Oscar para “A vida é bela”. Begnini já era figurinha carimbada da comédia italiana, daquele país de onde saiu Mastroiani, Fellini, de Sicca dentre outros. O filme “A vida é bela” era dotado de uma atmosfera extremamente sensível e ambientado em uma época negra que só foi acabada graças aos “grandes heróis do mundo livre”. De fato, eu não sei como um filme sobre uma mulher rabugenta e um moleque entojado que cruzam o mais miserável sertão pode perder o Oscar (prêmio que tem entre seus recordistas “Titanic”) para “A vida é bela”...
Não tenho nada contra o cinema brasileiro, não mesmo! Só acho que esta postura cultural que prima pelo nacionalismo é tão estúpida e cega quanto “noventa milhões em ação... pra frente Brasil, do meu coração!”. Acho que o público brasileiro tem que prestigiar os filmes bons, aprender a aplaudir e aprender a criticar. É assim que podemos ajudar a melhorar o cinema brasileiro...
Daqui há alguns dias o mercado de fogos de artifício irão passar por um momento de franca elevação. A razão disso: o filme “Cidade de Deus”, filme brasileiro que teve até hoje o maior número de indicações da Academia, vai disputar o Oscar. Já podemos ver grupos de amigos sentados à frente da TV, com trombetas, buzinas de spray, pom-pons e tudo que uma seleção teria direito. O Brasil se torna por um dia a pátria de claquetes, todo brasileiro é um diretor.
O filme “Cidade de Deus” é certamente um dos melhores filmes brasileiros já feitos. Eu arriscaria colocá-lo no patamar de “Macunaíma”, “Eles não usam black-tie”, “Limite” e outros grandes clássicos do cinema brasileiro. “Cidade de Deus” é um filme gostoso de assistir do ponto de vista narrativo e visual. Fruto dessa época atual do cinema brasileiro, onde a tecnologia se tornou um pouco mais acessível do que naquele tempo da “sonoplastia de caixa de papelão”, “Cidade de Deus” possui uma fotografia belíssima e um trilha sonora extremamente bem montada.
É muito bom saber que meus compatriotas concordam comigo que “Cidade de Deus” é um bom filme e que merece ganhar o Oscar por isso! Pelo menos seria...
Um grande problema que eu vejo no Cinema Brasileiro é o seu público. Para uma boa parte do público de cinema nacional não existe um filme bom ou ruim, existe um filme brasileiro ou estrangeiro. Eu vejo que a peça cinematográfica perde em parte seu valor artístico em detrimento de sua origem. “Nossa! Como você não gostou de tal filme? É um filme brasileiro!”... E daí? Isso não é justificativa...
Infelizmente quem tem mais a perder com isso é o próprio cinema brasileiro. Neste frenesi de “Viva o Cinema Brasileiro!” (“Cinema Brasileiro” com iniciais maiúsculas, como um nome próprio) muitas produções de baixíssima qualidade vêm sido aplaudidas pelo grande público e por um público dito “conceituado”. Um exemplo disso foi “Dom”, um filme medíocre com atores globais e trilha sonora com ícones das rádios FM. O grande mérito foi ter ambientado a trama do clássico “Dom Casmurro” em um cenário atual. Acontece que “Dom Casmurro” é um livro atemporal e universal, grande coisa ter sido ambientado no Brasil de 2003 ou na Inglaterra da Era Vitoriana. O filme “Romeu + Julieta”, de 1996, tinha essa mesma proposta e trazia no elenco Leonardo di Caprio sofreu críticas por ter dado ao clássico de Shakespeare uma roupagem extremamente comercial e apelativa. Por que não foram feitas as mesmas críticas a “Dom”? Atualmente está em cartaz o filme “A cartomante”, baseado no conto homônimo de Machado de Assis e estrelado por várias estrelas globais dentre elas a “gostosona da vez” Débora Secco. O que esperar da crítica?
Há algum tempo atrás eu havia dito em um texto que tínhamos muito o que aprender com o cinema argentino. O cinema dos hermanitos explora com muita riqueza o universo da classe média, a classe mais psicologicamente castigada. Talvez foi seguindo uma linha de pensamento parecida que Luís Fernando (conceituado diretor de novelas, peças e miniséries) gravou “Sexo, Amor e Traição”. Quem já viu o trailer, o cartaz e o próprio nome não precisa de se esforçar muito para ver que trata-se de uma xerox fiel do argentino “Sexo, Pudor e Lágrimas”. Mais uma vez a análise do filme pende muito mais para o patriotismo do que para a arte.
Infelizmente perdeu-se o bom senso da análise de um filme brasileiro pelo filme e não pelo brasileiro. O bom senso ultrapassa a barreira do previsível. Basta lembrarmos do Oscar de 1999 quando o país gritava marmelada porque “Central do Brasil” perdeu o Oscar para “A vida é bela”. Begnini já era figurinha carimbada da comédia italiana, daquele país de onde saiu Mastroiani, Fellini, de Sicca dentre outros. O filme “A vida é bela” era dotado de uma atmosfera extremamente sensível e ambientado em uma época negra que só foi acabada graças aos “grandes heróis do mundo livre”. De fato, eu não sei como um filme sobre uma mulher rabugenta e um moleque entojado que cruzam o mais miserável sertão pode perder o Oscar (prêmio que tem entre seus recordistas “Titanic”) para “A vida é bela”...
Não tenho nada contra o cinema brasileiro, não mesmo! Só acho que esta postura cultural que prima pelo nacionalismo é tão estúpida e cega quanto “noventa milhões em ação... pra frente Brasil, do meu coração!”. Acho que o público brasileiro tem que prestigiar os filmes bons, aprender a aplaudir e aprender a criticar. É assim que podemos ajudar a melhorar o cinema brasileiro...
domingo, fevereiro 15, 2004
“É porque Narciso acha feio o que não é espelho” ou A pretensão na música
Pretensão geralmente é algo visto com uma certa repulsa, coisa de gente arrogante e ególatra. Quando falamos de alguém pretensioso logo nos vem à cabeça a imagem de um sujeito extremamente fechado em si e que se vê como o parâmetro ideal de medida das coisas. Alguém que tem como hobbie se vangloriar de tudo o que faz e depreciar qualquer coisa que não se encaixe no seu próprio estilema (afinal ele deve se achar bom o bastante a ponto de ter um próprio). Descordar de suas gloriosas afirmações é um ato de insanidade, afinal em cada palavra que sai de sua boca está um degrau da escada para a perfeição...
Mas falar de pretensão é algo que, como muitos outros assuntos, não pode tender ao maniqueísmo. Foi graças a muitos pretensiosos de plantão que evoluímos tanto em muitas áreas do pensamento humano. Suas obras não devem ser depreciadas em função de sua pretensão, de forma alguma.
Lou Reed é um grande exemplo da “boa” pretensão. Quem já leu “Mate-me por favor” sabe das histórias de chiliques e conflitos de egos com John Cale, Nico e até com Andy Warhol. Apesar de tudo isso, Lou Reed continua sendo o autor de clássicos do rock como “Heroin”, “Sweet jane” e “Waiting for the man”. Por que sua pretensão não é tão reprovável? Porque sua maior pretensão, e a de outros, é algo que está em função de sua música, está no “querer ser o melhor naquilo que faz”. Seu ego inflado a ponto de exigir frutas e verduras devidamente lavados com água mineral é fruto dessa pretensão... mas isso é outro caso...
Se por um lado temos essa figura do “artista-obstinado-arrogante”, temos um outro tipo de figura pretensiosa que é perfeitamente ilustrado por um dos grandes nomes do rock nacional: Renato Russo. O “poeta urbano”, como gostam de ufanar os brasilienses, foi uma figura (ao meu ver) extremamente pretensiosa. Suas letras são demasiadamente floreadas para alguém que batia no peito ter sido influenciado pelo punk inglês. Suas músicas não passam de versões rebuscadas da maioria dos problemas banais de um adolescente entediado (e pretensioso). Renato Russo, como aquele colega de colégio que fazia questão de demonstrar a todos o tamanho do seu intelecto (tem algo freudiano nisso?), compôs letras com nomes de livros como “A montanha mágica” e “Flores do mal”. Por que acho Renato Russo digno da minha vociferação? Porque ele, como outros, botou sua produção em função de demonstrar o quanto ele era genial e culto. Renato Russo teve como plataforma de criação o seu próprio ego, isso é no mínimo boçal.
Pessoas pretensiosas não são pessoas obrigatoriamente patéticas e dignas de escárnio, tudo depende de como se dá a sua pretensão. Na maioria das vezes aliás, é um pouco de pretensão que dá a pessoa ânimo para criar coisas interessantes. Não foi através unicamente da pretensão que Lou Reed se tornou um ícone do rock, ele tinha talento. No caso de Renato Russo, sua pretensão é tamanha que se confunde com o talento,o que nos leva a nos perguntar até onde vai seu talento e a partir de onde entra a sua pretensão? Para essa resposta ser respondida... só com um médium com conhecimentos básicos de psicanálise...
Pretensão geralmente é algo visto com uma certa repulsa, coisa de gente arrogante e ególatra. Quando falamos de alguém pretensioso logo nos vem à cabeça a imagem de um sujeito extremamente fechado em si e que se vê como o parâmetro ideal de medida das coisas. Alguém que tem como hobbie se vangloriar de tudo o que faz e depreciar qualquer coisa que não se encaixe no seu próprio estilema (afinal ele deve se achar bom o bastante a ponto de ter um próprio). Descordar de suas gloriosas afirmações é um ato de insanidade, afinal em cada palavra que sai de sua boca está um degrau da escada para a perfeição...
Mas falar de pretensão é algo que, como muitos outros assuntos, não pode tender ao maniqueísmo. Foi graças a muitos pretensiosos de plantão que evoluímos tanto em muitas áreas do pensamento humano. Suas obras não devem ser depreciadas em função de sua pretensão, de forma alguma.
Lou Reed é um grande exemplo da “boa” pretensão. Quem já leu “Mate-me por favor” sabe das histórias de chiliques e conflitos de egos com John Cale, Nico e até com Andy Warhol. Apesar de tudo isso, Lou Reed continua sendo o autor de clássicos do rock como “Heroin”, “Sweet jane” e “Waiting for the man”. Por que sua pretensão não é tão reprovável? Porque sua maior pretensão, e a de outros, é algo que está em função de sua música, está no “querer ser o melhor naquilo que faz”. Seu ego inflado a ponto de exigir frutas e verduras devidamente lavados com água mineral é fruto dessa pretensão... mas isso é outro caso...
Se por um lado temos essa figura do “artista-obstinado-arrogante”, temos um outro tipo de figura pretensiosa que é perfeitamente ilustrado por um dos grandes nomes do rock nacional: Renato Russo. O “poeta urbano”, como gostam de ufanar os brasilienses, foi uma figura (ao meu ver) extremamente pretensiosa. Suas letras são demasiadamente floreadas para alguém que batia no peito ter sido influenciado pelo punk inglês. Suas músicas não passam de versões rebuscadas da maioria dos problemas banais de um adolescente entediado (e pretensioso). Renato Russo, como aquele colega de colégio que fazia questão de demonstrar a todos o tamanho do seu intelecto (tem algo freudiano nisso?), compôs letras com nomes de livros como “A montanha mágica” e “Flores do mal”. Por que acho Renato Russo digno da minha vociferação? Porque ele, como outros, botou sua produção em função de demonstrar o quanto ele era genial e culto. Renato Russo teve como plataforma de criação o seu próprio ego, isso é no mínimo boçal.
Pessoas pretensiosas não são pessoas obrigatoriamente patéticas e dignas de escárnio, tudo depende de como se dá a sua pretensão. Na maioria das vezes aliás, é um pouco de pretensão que dá a pessoa ânimo para criar coisas interessantes. Não foi através unicamente da pretensão que Lou Reed se tornou um ícone do rock, ele tinha talento. No caso de Renato Russo, sua pretensão é tamanha que se confunde com o talento,o que nos leva a nos perguntar até onde vai seu talento e a partir de onde entra a sua pretensão? Para essa resposta ser respondida... só com um médium com conhecimentos básicos de psicanálise...
segunda-feira, fevereiro 09, 2004
Recordar é viver...
(posts que caíram no esquecimento do HPG)
Você sabe que você cresceu quando:
- Você aluga filmes que anos atrás você acharia chatos (e gosta).
- Você liga para um amigo de infância chamando para ir num boteco e ele tem que ficar em casa tomando conta do filho.
- Você não exita em jogar fora sua coleção de revistas de video-game...
-... e nem de dar o seu video-game pra um primo.
- Você compra uma revistinha do seu personagem favorito e não entende lhufas.
- Você é chamado de "moço" pela atendente da locadora (e exatamente a que você estava de olho...).
- Você percebe que os desenhos que você gostava não passam mais na TV aberta.
- Você boceja em filme de ação.
- Você olha para aquele casaco que você mais usava até anos atrás e pensa "Eu não vou sair com essa coisa ridícula!"
- Você não entende os novos jogos para computador... na verdade você não tem paciência de aprender...
- Você entra em um fliperama e todos os moleques te olham como se fosse tirar alguém de lá pela orelha...
- ...e você tira alguém de lá pela orelha.
- Você percebe que as garotas das capas de revistas masculinas agora têm a mesma idade que você...
- ... você percebe também que mesmo que você não seja mais um moleque, elas não te dariam a menor pelota.
- Você compra a Playboy no supermercado sem o mínimo pudor, na mesma fila que uma evangélica, uma senhora de idade e uma mulher com um filho no colo...
- ... mas você comprou a Playboy por conta de uma matéria e não por causa da gostosona da capa (que tem a mesma idade que você, e nem por isso te daria a menor pelota.).
- Você usa palavras como "incumbência", "paradigma", "peculiar" ou "estratagema" durante uma conversa com os amigos em um bar...
- ... e você não têm medo do juizado 'baixar'
- Você fuma escondido não da sua mãe mas do seu irmãozinho.
- Você só consegue dormir depois da meia-noite e se pergunta porque sua mãe te mandava dormir cedo já que existe despertador...
- Você vai ao banco pegar um extrato... e entende o extrato!
- Em quase todo lugar que você vai te oferecem cafezinho...
- Você vai fazer exame de sangue e não te dão pirulito ou balinha...
- ... e você não se incomoda com isso!
- Você não xinga mais as pessoas de "Feio", "bobo" ou "Chato"... mas de "incompetente", "boçal" ou "prepotente"...
- ... e as pessoas não retrucam!
- Você tem mais camisas que camisetas...
- Você conversa sobre política, cultura e essas coisas que o professor falava na sala de aula enquanto você jogava Tetris.
Se você já viveu a maioria dessas situações... considere-se crescido... e nem todo Danoninho do mundo e todos os desenhos do Cartoon Network podem te salvar disso...
(posts que caíram no esquecimento do HPG)
Você sabe que você cresceu quando:
- Você aluga filmes que anos atrás você acharia chatos (e gosta).
- Você liga para um amigo de infância chamando para ir num boteco e ele tem que ficar em casa tomando conta do filho.
- Você não exita em jogar fora sua coleção de revistas de video-game...
-... e nem de dar o seu video-game pra um primo.
- Você compra uma revistinha do seu personagem favorito e não entende lhufas.
- Você é chamado de "moço" pela atendente da locadora (e exatamente a que você estava de olho...).
- Você percebe que os desenhos que você gostava não passam mais na TV aberta.
- Você boceja em filme de ação.
- Você olha para aquele casaco que você mais usava até anos atrás e pensa "Eu não vou sair com essa coisa ridícula!"
- Você não entende os novos jogos para computador... na verdade você não tem paciência de aprender...
- Você entra em um fliperama e todos os moleques te olham como se fosse tirar alguém de lá pela orelha...
- ...e você tira alguém de lá pela orelha.
- Você percebe que as garotas das capas de revistas masculinas agora têm a mesma idade que você...
- ... você percebe também que mesmo que você não seja mais um moleque, elas não te dariam a menor pelota.
- Você compra a Playboy no supermercado sem o mínimo pudor, na mesma fila que uma evangélica, uma senhora de idade e uma mulher com um filho no colo...
- ... mas você comprou a Playboy por conta de uma matéria e não por causa da gostosona da capa (que tem a mesma idade que você, e nem por isso te daria a menor pelota.).
- Você usa palavras como "incumbência", "paradigma", "peculiar" ou "estratagema" durante uma conversa com os amigos em um bar...
- ... e você não têm medo do juizado 'baixar'
- Você fuma escondido não da sua mãe mas do seu irmãozinho.
- Você só consegue dormir depois da meia-noite e se pergunta porque sua mãe te mandava dormir cedo já que existe despertador...
- Você vai ao banco pegar um extrato... e entende o extrato!
- Em quase todo lugar que você vai te oferecem cafezinho...
- Você vai fazer exame de sangue e não te dão pirulito ou balinha...
- ... e você não se incomoda com isso!
- Você não xinga mais as pessoas de "Feio", "bobo" ou "Chato"... mas de "incompetente", "boçal" ou "prepotente"...
- ... e as pessoas não retrucam!
- Você tem mais camisas que camisetas...
- Você conversa sobre política, cultura e essas coisas que o professor falava na sala de aula enquanto você jogava Tetris.
Se você já viveu a maioria dessas situações... considere-se crescido... e nem todo Danoninho do mundo e todos os desenhos do Cartoon Network podem te salvar disso...
segunda-feira, fevereiro 02, 2004
"A outra banda do cara daquela banda!"
Uma pequena viagem pelas "bandas não-oficiais" em geral
Em uma época onde as grandes bandas se resumem a fósseis inúteis ou apenas às suas memórias... em uma época em que o rock se encontra em um marasmo enorme... em uma época em que a indústria fonográfica se agarra a qualquer banda elevando-a a "a salvação do rock"! É numa época dessas que um verso dos Ramones diz tudo: "cuz lately everything sounds the same to me!"
Na sede por novos sons, nada melhor do que apelar para algo que é geralmente muito interessante: projetos paralelos e afins. Digo "projeto paralelos e afins" para tentar achar uma forma de generalizar as "bandas de caras que são de bandas mais fodonas" sendo projetos paralelos ou não. Muitas dessas bandas foram as sementes de bandas legendárias. Falo assim também porque quando falamos em projeto paralelo entendemos que existe uma banda que corre paralela a essa, mas e quando a banda acaba e um integrante monta uma "outra banda não tão fodona"? Existem também "bandas instantâneas", bandas que existiram durante uma fração de tempo insuficiente para ser cultuada (ou pasteurizada)...
Impossível falar em projeto paralelo sem falar no "Senhor de Todos os Projetos Paralelos", o ex-vocalista do Faith No More Mike Patton. Mike Patton, para quem não sabe, é um poço insano de criatividade. Seus trabalhos com o Faith no More são suficientes para atestar que além de ser dono de uma voz que vai do crooner ("Easy") ao rock gritado ("Digging the grave"), Patton possui um senso de humor quase non-sense e uma forma de compor e arranjar que esbanja criatividade. Como se não fosse suficiente, Patton distribuiu pelo mundo do rock diversas outras bandas. A mais famosa com certeza (e mais insana) é o Mr. Bungle. A que possui figurinhas mais carimbadas é o Fantomas que conta Dave Lombardo (ex-Slayer) na bateria, Buzz Osbourne (Melvins) na guitarra e Trevor Dunn (Mr. Bungle). A menos conhecida e mais experimental é o Tomahawk. E o mais recente foi o Lovage, com o trabalho "Nathaniel Merriweather Presents Lovage: Music To Make Love To Your Old Lady", que contou com a participação de Dan The Automator, do Gorillaz.
Gorillaz é uma outra banda que é citação obrigatória aqui. Encabeçada por Damon Albarn, vocalista do Blur, a banda mostrou como se pode fabricar uma banda literalmente! O trabalho mostrou como é possível ter uma banda com uma estética exacerbada sem arriscar a qualidade, fazendo um som pop que agrada aos ouvidos mais xiitas e satisfaz as paradas de rádio. A banda agradou, mas não repetiu a dose... aliás isso é algo típico dos projetos paralelos: lançar poucos cd's e se dispersarem...
Um projeto paralelo muito bom que faz parte dessa regra geral foi o Mad Season. O Mad Season foi algo do tipo "vamos fazer abanda mais grunge que poderia existir". Layne Stanley (vocalista do Alice in chains) se juntou a Mike Mc’Cready (guitarrista do Pearl Jam) e fez um som completamente diferente do que tocavam com suas bandas originais. Mad Season tem um som denso e carregado, algo meio sombrio e áspero. A banda lançou um único trabalho, o disco Above, lançado durante a grande decadência grunge em 1997, quando a maioria das bandas estava se dissolvendo.
Talvez seja a água de Seattle, mas é de lá que vem um outro projeto paralelo que teve apenas um disco lançado. O Temple of the dog foi um projeto paralelo que contou com Chris Cornell e Matt Cameron (intergrantes do falecido Soundgarden) em parceria com Mike Mc’cready, Stone Gossard, Jeff Ament e participação de Eddie Vedder. Analisando a formação podemos brincar e falar que essa era uma “mezzo Soundgarden mezzo Pearl Jam” (não tão mezzo, mas mezzo). O encontro se deu em homenagem à morte do vocalista de uma das bandas seminais do grunge, o Mother Love Bone. Assim como o Mad Season, essa é uma banda que caiu na grande regra geral dos projetos paralelos: seu único disco foi “Say Hello 2 Heaven”, lançado pouco tempo antes do Pearl Jam soltar o clássico Ten.
Existem projetos paralelos que abusam dessa coisa da efemeridade, existindo por apenas uma apresentação ou uma turnê. Um exemplo foi o que aconteceu nos protestos durante a reunião da OMC em Seattle (o que se passou pela cabeça da OMC para eles fazerem uma reunião logo em Seattle?). O clima ativista (aliado àquela questão da água que já comentamos) deu origem a uma banda que foi tão efêmera quanto bizarra. Imagine Krist Novoselic (baixista do Nirvana), junte Kim Thayil (guitarrista do Soundgarden) e adicione Jello Biafra (vocalista do Dead Kennedys). Estranho não? Pois é, o noWOT foi algo único e talvez por isso tão rápido. Pode-se achar (com muita reza brava) algo para se ouvir na internet, mas encontra-se mais relatos de pessoas que testemunharam esse acontecimento.
Outro tipo de “banda-relâmpago” foi o Dirty Mac. Se o noWOT era caracterizado pela mistura bizarra de seus componente, o Dirty Mac pode ser caracterizado por ser uma banda de titãs (trocadilho acidental). A sua formação contava com Mitch Mitchell (o jovem e virtuoso baterista do Jimi Hendrix Experience), Keith Richards (Rolling Stones) e Eric Clapton (na época ainda no Cream)... todos eles sob a batuta de JOHN LENNON (dispensa apresentações). A banda pode ser vista no antológico “Rolling Stone’s Rock’n’roll Circus”. Sua magnitude só não é menor do que seu estigma de ser tratada como o embrião de uma das bandas mais amaldiçoadas do rock, a Plastic Ono Band.
Bandas seminais são coisas interessantes também. Afinal, ninguém se torna uma lenda logo na primeira banda. Não podemos considerar uma banda seminal um projeto paralelo, mas por força das circunstâncias nós não consideramos uma banda seminal uma banda de verdade assim por dizer... Vocês entenderam! Muita coisa boa pode ser tirada das priscas eras de um músico, e um exemplo disso foi uma banda de Seattle (“De novo? Oh meu Deus!”) chamada Green River. A banda não é tida como uma grande referência do gênero grunge, mas sua existência foi extremamente importante para o surgimento de dois dos grandes baluartes do movimento: Mudhoney (Steve Arm e Mark Arm) e Pearl Jam (Stone Gossard e Jeff Ament). A banda tem um som que pode ser considerado meio “juvenil demais”, mas é uma daquelas coisas que você ouve e vê que se trata de rock de verdade: despretencioso e puro.
Existe uma banda que possui esse mesmo trunfo, o de ter sido berço de grandes bandas. Esse trunfo só não é maior do que a de ter sido uma banda que contou com três dos maiores guitarristas do mundo. Essa banda foi o Yardbirds. A banda, que é um tópico especial na história do rock, contou com Jeff Beck, Jimi Page (leia-se DEUS) e Eric Clapton. A banda é uma referência obrigatória no rock dos anos 60, além de ter sido a origem do Cream, do Led Zeppelin e, claro, da carreira solo de Jeff Beck (que anos mais tarde montou um trio junto a Carmine e Appice). Certamente não pode existir começo mais brilhante do que esse.
Mas e quando aquela sua banda famosa acaba? O sonho acabou? Não! Existe uma infinidade de bandas que nascem das cinzas de outras. Dois exemplos disso são o Velvet Revolver e o Slash’s Snake Pit. Enquanto Axl Rose tenta lançar o álbum Chinese Democracy antes da sua morte, os ex-integrantes do Guns’n’Roses trilham caminhos muito mais promissores. O Velvet Revolver conta com o vocal de Scott Weilland, o tresloucado vocalista do Stone Temple Pilots, e com um repertório que surpreende e transcende o Hard Rock. Com o Slash’s Snake Pit não é diferente, a banda de Slash bota para quebrar aliando peso e virtuosidade.
Um outro exemplo de “banda-fênix” é o Audioslave. A união dos remanescentes do Rage against the machine com Chris Cornell (olha ele aí de novo!) já era há muito tempo vigiada pelos fãs de ambos os lados. Apareceu primeiramente na internet sob o nome de Civillian e foi vista com certo ceticismo tanto pelas gravadoras quanto pelo público. Em 2002 a união foi oficializada sob a forma do Audioslave. A banda é atacada pelos mais xiitas por ser uma banda com apelo comercial tão grande, no entanto estes radicais não vêem o verdadeiro valor do Audioslave: ter salvado Chris Cornell de uma carreira-solo feita a base de baladinhas como ele estava fazendo.
Ao contrário do casamento e da política, na música a infidelidade é uma virtude... e que gera muita coisa boa! Procure! Com certeza algum membro de alguma das suas bandas favoritas já pulou a cerca. Confira! Se não valer a pena, vale pela curiosidade!
Uma pequena viagem pelas "bandas não-oficiais" em geral
Em uma época onde as grandes bandas se resumem a fósseis inúteis ou apenas às suas memórias... em uma época em que o rock se encontra em um marasmo enorme... em uma época em que a indústria fonográfica se agarra a qualquer banda elevando-a a "a salvação do rock"! É numa época dessas que um verso dos Ramones diz tudo: "cuz lately everything sounds the same to me!"
Na sede por novos sons, nada melhor do que apelar para algo que é geralmente muito interessante: projetos paralelos e afins. Digo "projeto paralelos e afins" para tentar achar uma forma de generalizar as "bandas de caras que são de bandas mais fodonas" sendo projetos paralelos ou não. Muitas dessas bandas foram as sementes de bandas legendárias. Falo assim também porque quando falamos em projeto paralelo entendemos que existe uma banda que corre paralela a essa, mas e quando a banda acaba e um integrante monta uma "outra banda não tão fodona"? Existem também "bandas instantâneas", bandas que existiram durante uma fração de tempo insuficiente para ser cultuada (ou pasteurizada)...
Impossível falar em projeto paralelo sem falar no "Senhor de Todos os Projetos Paralelos", o ex-vocalista do Faith No More Mike Patton. Mike Patton, para quem não sabe, é um poço insano de criatividade. Seus trabalhos com o Faith no More são suficientes para atestar que além de ser dono de uma voz que vai do crooner ("Easy") ao rock gritado ("Digging the grave"), Patton possui um senso de humor quase non-sense e uma forma de compor e arranjar que esbanja criatividade. Como se não fosse suficiente, Patton distribuiu pelo mundo do rock diversas outras bandas. A mais famosa com certeza (e mais insana) é o Mr. Bungle. A que possui figurinhas mais carimbadas é o Fantomas que conta Dave Lombardo (ex-Slayer) na bateria, Buzz Osbourne (Melvins) na guitarra e Trevor Dunn (Mr. Bungle). A menos conhecida e mais experimental é o Tomahawk. E o mais recente foi o Lovage, com o trabalho "Nathaniel Merriweather Presents Lovage: Music To Make Love To Your Old Lady", que contou com a participação de Dan The Automator, do Gorillaz.
Mike Patton: "Monte um projeto paralelo! Pergunte-me como!"
Gorillaz é uma outra banda que é citação obrigatória aqui. Encabeçada por Damon Albarn, vocalista do Blur, a banda mostrou como se pode fabricar uma banda literalmente! O trabalho mostrou como é possível ter uma banda com uma estética exacerbada sem arriscar a qualidade, fazendo um som pop que agrada aos ouvidos mais xiitas e satisfaz as paradas de rádio. A banda agradou, mas não repetiu a dose... aliás isso é algo típico dos projetos paralelos: lançar poucos cd's e se dispersarem...
Um projeto paralelo muito bom que faz parte dessa regra geral foi o Mad Season. O Mad Season foi algo do tipo "vamos fazer abanda mais grunge que poderia existir". Layne Stanley (vocalista do Alice in chains) se juntou a Mike Mc’Cready (guitarrista do Pearl Jam) e fez um som completamente diferente do que tocavam com suas bandas originais. Mad Season tem um som denso e carregado, algo meio sombrio e áspero. A banda lançou um único trabalho, o disco Above, lançado durante a grande decadência grunge em 1997, quando a maioria das bandas estava se dissolvendo.
Talvez seja a água de Seattle, mas é de lá que vem um outro projeto paralelo que teve apenas um disco lançado. O Temple of the dog foi um projeto paralelo que contou com Chris Cornell e Matt Cameron (intergrantes do falecido Soundgarden) em parceria com Mike Mc’cready, Stone Gossard, Jeff Ament e participação de Eddie Vedder. Analisando a formação podemos brincar e falar que essa era uma “mezzo Soundgarden mezzo Pearl Jam” (não tão mezzo, mas mezzo). O encontro se deu em homenagem à morte do vocalista de uma das bandas seminais do grunge, o Mother Love Bone. Assim como o Mad Season, essa é uma banda que caiu na grande regra geral dos projetos paralelos: seu único disco foi “Say Hello 2 Heaven”, lançado pouco tempo antes do Pearl Jam soltar o clássico Ten.
Existem projetos paralelos que abusam dessa coisa da efemeridade, existindo por apenas uma apresentação ou uma turnê. Um exemplo foi o que aconteceu nos protestos durante a reunião da OMC em Seattle (o que se passou pela cabeça da OMC para eles fazerem uma reunião logo em Seattle?). O clima ativista (aliado àquela questão da água que já comentamos) deu origem a uma banda que foi tão efêmera quanto bizarra. Imagine Krist Novoselic (baixista do Nirvana), junte Kim Thayil (guitarrista do Soundgarden) e adicione Jello Biafra (vocalista do Dead Kennedys). Estranho não? Pois é, o noWOT foi algo único e talvez por isso tão rápido. Pode-se achar (com muita reza brava) algo para se ouvir na internet, mas encontra-se mais relatos de pessoas que testemunharam esse acontecimento.
Seattle: maior número de bandas não-oficiais por habitantes dos EUA
Outro tipo de “banda-relâmpago” foi o Dirty Mac. Se o noWOT era caracterizado pela mistura bizarra de seus componente, o Dirty Mac pode ser caracterizado por ser uma banda de titãs (trocadilho acidental). A sua formação contava com Mitch Mitchell (o jovem e virtuoso baterista do Jimi Hendrix Experience), Keith Richards (Rolling Stones) e Eric Clapton (na época ainda no Cream)... todos eles sob a batuta de JOHN LENNON (dispensa apresentações). A banda pode ser vista no antológico “Rolling Stone’s Rock’n’roll Circus”. Sua magnitude só não é menor do que seu estigma de ser tratada como o embrião de uma das bandas mais amaldiçoadas do rock, a Plastic Ono Band.
Bandas seminais são coisas interessantes também. Afinal, ninguém se torna uma lenda logo na primeira banda. Não podemos considerar uma banda seminal um projeto paralelo, mas por força das circunstâncias nós não consideramos uma banda seminal uma banda de verdade assim por dizer... Vocês entenderam! Muita coisa boa pode ser tirada das priscas eras de um músico, e um exemplo disso foi uma banda de Seattle (“De novo? Oh meu Deus!”) chamada Green River. A banda não é tida como uma grande referência do gênero grunge, mas sua existência foi extremamente importante para o surgimento de dois dos grandes baluartes do movimento: Mudhoney (Steve Arm e Mark Arm) e Pearl Jam (Stone Gossard e Jeff Ament). A banda tem um som que pode ser considerado meio “juvenil demais”, mas é uma daquelas coisas que você ouve e vê que se trata de rock de verdade: despretencioso e puro.
Existe uma banda que possui esse mesmo trunfo, o de ter sido berço de grandes bandas. Esse trunfo só não é maior do que a de ter sido uma banda que contou com três dos maiores guitarristas do mundo. Essa banda foi o Yardbirds. A banda, que é um tópico especial na história do rock, contou com Jeff Beck, Jimi Page (leia-se DEUS) e Eric Clapton. A banda é uma referência obrigatória no rock dos anos 60, além de ter sido a origem do Cream, do Led Zeppelin e, claro, da carreira solo de Jeff Beck (que anos mais tarde montou um trio junto a Carmine e Appice). Certamente não pode existir começo mais brilhante do que esse.
Mas e quando aquela sua banda famosa acaba? O sonho acabou? Não! Existe uma infinidade de bandas que nascem das cinzas de outras. Dois exemplos disso são o Velvet Revolver e o Slash’s Snake Pit. Enquanto Axl Rose tenta lançar o álbum Chinese Democracy antes da sua morte, os ex-integrantes do Guns’n’Roses trilham caminhos muito mais promissores. O Velvet Revolver conta com o vocal de Scott Weilland, o tresloucado vocalista do Stone Temple Pilots, e com um repertório que surpreende e transcende o Hard Rock. Com o Slash’s Snake Pit não é diferente, a banda de Slash bota para quebrar aliando peso e virtuosidade.
Um outro exemplo de “banda-fênix” é o Audioslave. A união dos remanescentes do Rage against the machine com Chris Cornell (olha ele aí de novo!) já era há muito tempo vigiada pelos fãs de ambos os lados. Apareceu primeiramente na internet sob o nome de Civillian e foi vista com certo ceticismo tanto pelas gravadoras quanto pelo público. Em 2002 a união foi oficializada sob a forma do Audioslave. A banda é atacada pelos mais xiitas por ser uma banda com apelo comercial tão grande, no entanto estes radicais não vêem o verdadeiro valor do Audioslave: ter salvado Chris Cornell de uma carreira-solo feita a base de baladinhas como ele estava fazendo.
Ao contrário do casamento e da política, na música a infidelidade é uma virtude... e que gera muita coisa boa! Procure! Com certeza algum membro de alguma das suas bandas favoritas já pulou a cerca. Confira! Se não valer a pena, vale pela curiosidade!
domingo, fevereiro 01, 2004
Já dizia Jello Biafra...
O jornalismo nada mais é para mim na maioria das vezes do que "a ciência do pitaco". Jornalista geralmente aprende o MOBRAL de um determinado assunto e se acha no direito de publicar as mais aterrorizantes asneiras...
Essa área da comunicação está fadada a um destino cada vez mais decadente e estúpido. O jornalismo está inserido em um sistema que supervaloriza a produção, assim como toda e qualquer área. No entanto, este jornalismo se encontra geralmente sob o julgo dos famigerados complexos de mídia, que nada mais são do que corporações da indústria cultural e da mass media.
Nesse triste panorama, nós temos uma instituição que se tornou quase emblemática: a MTV. A MTV é como um coito interrompido para um fã de rock: algo que tinha tudo para ser perfeito mas caiu na típica superficialidade e banalidade da TV aberta...
Como se já não bastasse sua programação rídicula, seus VJ's patéticos (os novos e os velhos, quem era bom já saiu faz tempo) e sua produção prepotente... a MTV resolve dar o pitaco na coisa da qual ela atualmente menos entende: rock! Resolveram lançar umas lista dos 20 melhores guitarristas do rock... Que segue logo abaixo...
1.Tony Iommi (Black Sabbath)
2. Kirk Hammett e James Hetfield (Metallica)
3. Angus e Malcolm Young (AC/DC)
4. Randy Rhoads (1956-1982) (Ozzy Osbourne)
5. Eddie Van Halen (Van Halen)
6. Jimmy Page (Led Zeppelin)
7. Dimebag Darrell (Patera, Damageplan)
8. Zakk Wylde (Ozzy, Black Label Society)
9. Adam Jones (Tool)
10. Kerry King & Jeff Hanneman (Slayer)
11. Dave Murray & Adrian Smith (Iron Maiden)
12. Jimi Hendrix
13. Glen Tipton e K.K. Downing (Judas Priest)
14. Ace Frehley e Paul Stanley (Kiss)
15. Slash (Guns n'Roses)
16. Ritchie Blackmore (Deep Purple)
17. Yngwie Malmsteen
18. Joe Perry e Brad Whitford (Aerosmith)
19. Dave Mustaine e Marty Friedman (Megadeth)
20. Chuck Schuldiner (Death)
Vamos fazer a tarefa de casa... RITCHIE BLACKMORE ATRÁS DOS GUITARRISTAS DO JUDAS PRIEST? JIMI HENDRIX, JIMI PAGE (a.k.a. GOD), YNGWIE MALMSTEEN EM COLOCAÇÕES TÃO PÍFIAS? FORA A AUSÊNCIA DE PETE TOWNSHEND, ERIC CLAPTON, OTTIS REDDING, JEFF BECK DENTRE MUITOS OUTROS... A PRESENÇA QUESTIONAVEL DE BRAD WHITFORD... A POSIÇÃO NÃO MENOS QUESTIONÁVEL DE EDDIE VAN HALEN...
Essa lista que a MTV lançou parece coisa típica de alguém que leu alguma espécie de "Guitar players for DUMMIES"... Já dizia Jello Biafra... "MTV get off the air!"...
O jornalismo nada mais é para mim na maioria das vezes do que "a ciência do pitaco". Jornalista geralmente aprende o MOBRAL de um determinado assunto e se acha no direito de publicar as mais aterrorizantes asneiras...
Essa área da comunicação está fadada a um destino cada vez mais decadente e estúpido. O jornalismo está inserido em um sistema que supervaloriza a produção, assim como toda e qualquer área. No entanto, este jornalismo se encontra geralmente sob o julgo dos famigerados complexos de mídia, que nada mais são do que corporações da indústria cultural e da mass media.
Nesse triste panorama, nós temos uma instituição que se tornou quase emblemática: a MTV. A MTV é como um coito interrompido para um fã de rock: algo que tinha tudo para ser perfeito mas caiu na típica superficialidade e banalidade da TV aberta...
Como se já não bastasse sua programação rídicula, seus VJ's patéticos (os novos e os velhos, quem era bom já saiu faz tempo) e sua produção prepotente... a MTV resolve dar o pitaco na coisa da qual ela atualmente menos entende: rock! Resolveram lançar umas lista dos 20 melhores guitarristas do rock... Que segue logo abaixo...
1.Tony Iommi (Black Sabbath)
2. Kirk Hammett e James Hetfield (Metallica)
3. Angus e Malcolm Young (AC/DC)
4. Randy Rhoads (1956-1982) (Ozzy Osbourne)
5. Eddie Van Halen (Van Halen)
6. Jimmy Page (Led Zeppelin)
7. Dimebag Darrell (Patera, Damageplan)
8. Zakk Wylde (Ozzy, Black Label Society)
9. Adam Jones (Tool)
10. Kerry King & Jeff Hanneman (Slayer)
11. Dave Murray & Adrian Smith (Iron Maiden)
12. Jimi Hendrix
13. Glen Tipton e K.K. Downing (Judas Priest)
14. Ace Frehley e Paul Stanley (Kiss)
15. Slash (Guns n'Roses)
16. Ritchie Blackmore (Deep Purple)
17. Yngwie Malmsteen
18. Joe Perry e Brad Whitford (Aerosmith)
19. Dave Mustaine e Marty Friedman (Megadeth)
20. Chuck Schuldiner (Death)
Vamos fazer a tarefa de casa... RITCHIE BLACKMORE ATRÁS DOS GUITARRISTAS DO JUDAS PRIEST? JIMI HENDRIX, JIMI PAGE (a.k.a. GOD), YNGWIE MALMSTEEN EM COLOCAÇÕES TÃO PÍFIAS? FORA A AUSÊNCIA DE PETE TOWNSHEND, ERIC CLAPTON, OTTIS REDDING, JEFF BECK DENTRE MUITOS OUTROS... A PRESENÇA QUESTIONAVEL DE BRAD WHITFORD... A POSIÇÃO NÃO MENOS QUESTIONÁVEL DE EDDIE VAN HALEN...
Essa lista que a MTV lançou parece coisa típica de alguém que leu alguma espécie de "Guitar players for DUMMIES"... Já dizia Jello Biafra... "MTV get off the air!"...
JÚBILO! JÚBILO! JÚBILO! JÚBILO!
Fox vai lançar polêmico programa de namoro com anões
30/01/04
17:19
Por Steve Gorman
LOS ANGELES (Reuters) - Os críticos podem não gostar do concurso de namoro com anões "The Littlest Groom" (O Menor Noivo), que deve ser lançado em breve pela Fox. Mas o presidente da organização Little People of America (Pessoas Pequenas da América -- LPA) afirmou que o programa pode acabar ajudando seus membros.
Enquanto parte do público deve rir de doze anãs competindo com mulheres de tamanho normal pela afeição de um solteiro de 1,35 metro, o presidente da LPA, Matt Roloff, disse que o programa pode beneficiar as pessoas de baixa estatura ao mostrá-las como gente normal, "sendo elas mesmas".
Em outras palavras, mostrar que a altura não é importante.
"Sim, os sarristas farão a festa", disse Roloff à Reuters em entrevista telefônica. "Mas, se nos escondermos entre quatro paredes ou debaixo de fantasias engraçadas, nunca ganharemos a exposição necessária para que a sociedade se acostume conosco."
A Fox anunciou esta semana que vai transmitir o programa, basicamente uma versão para anões de "The Bachelor", da ABC, em duas partes, em 16 e 23 de fevereiro.
Segundo Roloff, o anúncio gerou uma onda de cartas iradas à LPA e uma discussão interna sobre a reação ao programa.
"É ultrajante a Fox fazer esse reality show", diz o e-mail do pai de uma criança anã. "É mais uma maneira de zombarem de nossa estatura."
****
E todos me chamavam de porco quando eu sugeri o concurso da anã albina do "É o Tchan!"
Fox vai lançar polêmico programa de namoro com anões
30/01/04
17:19
Por Steve Gorman
LOS ANGELES (Reuters) - Os críticos podem não gostar do concurso de namoro com anões "The Littlest Groom" (O Menor Noivo), que deve ser lançado em breve pela Fox. Mas o presidente da organização Little People of America (Pessoas Pequenas da América -- LPA) afirmou que o programa pode acabar ajudando seus membros.
Enquanto parte do público deve rir de doze anãs competindo com mulheres de tamanho normal pela afeição de um solteiro de 1,35 metro, o presidente da LPA, Matt Roloff, disse que o programa pode beneficiar as pessoas de baixa estatura ao mostrá-las como gente normal, "sendo elas mesmas".
Em outras palavras, mostrar que a altura não é importante.
"Sim, os sarristas farão a festa", disse Roloff à Reuters em entrevista telefônica. "Mas, se nos escondermos entre quatro paredes ou debaixo de fantasias engraçadas, nunca ganharemos a exposição necessária para que a sociedade se acostume conosco."
A Fox anunciou esta semana que vai transmitir o programa, basicamente uma versão para anões de "The Bachelor", da ABC, em duas partes, em 16 e 23 de fevereiro.
Segundo Roloff, o anúncio gerou uma onda de cartas iradas à LPA e uma discussão interna sobre a reação ao programa.
"É ultrajante a Fox fazer esse reality show", diz o e-mail do pai de uma criança anã. "É mais uma maneira de zombarem de nossa estatura."
****
E todos me chamavam de porco quando eu sugeri o concurso da anã albina do "É o Tchan!"
terça-feira, janeiro 20, 2004
PUTZ MORRI! Recomenda: A estranha família de Igby
Família é um tema porre geralmente em cinema. Sempre tende para algo sentimentalóide melodramático geralmente protagonizado pela Meryl Streep. Ou fica naquela lenga-lenga de mostrar o quanto temos que dar valor a nossa família por mais insuportável que ela seja ou na outra lenga-lenga de mostrar como a família oprime o indivíduo desde cedo como reflexo do sistema, blá, blá, blá. E sempre tem um maldito mártir, um maldito pobre-coitado que sofre única e exclusivamente porque se ele não sofresse não tinha filme e ponto.
"A estranha família de Igby" foge de todos esses pecados dos filmes sobre família. Um dos melhores enredos que eu já vi com personagens riquíssimos em aspectos psicológicos sem aqueles típicos arquétipos e estereótipos tão usados em filmes do tipo. O garoto "indolente" e "rico" não ganha nem o caráter de mimado nem de rebelde, assim como a mãe rígida e doente não pende nem para a 'megera" e nem para a "batalhadora". O irmão mais velho sacana não faz nada mais que qualquer irmão mais velho sacana faria. O padrinho não fica de falatório inútil mais do que qualquer parente do tipo ficaria. Os personagens agem como eles são, não me assustaria se eu descobrisse que essa é uma história verídica ou algo do tipo: as coisas se seguem no filme em um desencadeamento desprovido de maiores pretensões epifânicas, assim como se dá com qualquer um.
E é sobre isso que é esse filme: uma família como qualquer uma. Não existe nada de incomum nos problemas de Igby: sua mãe está com câncer e ele não quer a vida que a sua família quer para ele (problema enfrentado pelo menos uma vez na vida da maioria das pessoas que eu conheço). O filme algo que nós percebemos na nossa própria família: o quanto o nosso nível de intimidade não nos faz perceber as neuroses que cercam essa tão sacramentada instituição. "Insanity is relative!" é a frase de chamada do filme, e não tem melhor. Toda família é esquisita, não tem uma que salva! E quanto mais comum a família mais esquisita!
"A estranha família de Igby" pode ser tida como uma referência universal de como é uma família. Talvez esse grande trunfo só tenha sido possível pelo fato de que a única pretensão do diretor era contar uma história de verdade, do que poderia ser talvez uma família de verdade!
E por favor não vá beijar a sua mãe e falar o quanto a ama depois de ver esse filme... sente no sofá como você sempre faz e pergunte se tem coca-cola!
Família é um tema porre geralmente em cinema. Sempre tende para algo sentimentalóide melodramático geralmente protagonizado pela Meryl Streep. Ou fica naquela lenga-lenga de mostrar o quanto temos que dar valor a nossa família por mais insuportável que ela seja ou na outra lenga-lenga de mostrar como a família oprime o indivíduo desde cedo como reflexo do sistema, blá, blá, blá. E sempre tem um maldito mártir, um maldito pobre-coitado que sofre única e exclusivamente porque se ele não sofresse não tinha filme e ponto.
"A estranha família de Igby" foge de todos esses pecados dos filmes sobre família. Um dos melhores enredos que eu já vi com personagens riquíssimos em aspectos psicológicos sem aqueles típicos arquétipos e estereótipos tão usados em filmes do tipo. O garoto "indolente" e "rico" não ganha nem o caráter de mimado nem de rebelde, assim como a mãe rígida e doente não pende nem para a 'megera" e nem para a "batalhadora". O irmão mais velho sacana não faz nada mais que qualquer irmão mais velho sacana faria. O padrinho não fica de falatório inútil mais do que qualquer parente do tipo ficaria. Os personagens agem como eles são, não me assustaria se eu descobrisse que essa é uma história verídica ou algo do tipo: as coisas se seguem no filme em um desencadeamento desprovido de maiores pretensões epifânicas, assim como se dá com qualquer um.
E é sobre isso que é esse filme: uma família como qualquer uma. Não existe nada de incomum nos problemas de Igby: sua mãe está com câncer e ele não quer a vida que a sua família quer para ele (problema enfrentado pelo menos uma vez na vida da maioria das pessoas que eu conheço). O filme algo que nós percebemos na nossa própria família: o quanto o nosso nível de intimidade não nos faz perceber as neuroses que cercam essa tão sacramentada instituição. "Insanity is relative!" é a frase de chamada do filme, e não tem melhor. Toda família é esquisita, não tem uma que salva! E quanto mais comum a família mais esquisita!
"A estranha família de Igby" pode ser tida como uma referência universal de como é uma família. Talvez esse grande trunfo só tenha sido possível pelo fato de que a única pretensão do diretor era contar uma história de verdade, do que poderia ser talvez uma família de verdade!
E por favor não vá beijar a sua mãe e falar o quanto a ama depois de ver esse filme... sente no sofá como você sempre faz e pergunte se tem coca-cola!
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