terça-feira, agosto 03, 2004

O mito da piñata

Em um galpão escuro estavam três homens: um executivo, um estudante universitário e um jornalista. Os três homens estavam munidos de pedaços de pau e sobre suas cabeças pairava uma piñata colorida, feita de papier-mâché e coberta de brocal, lantejoulas e todas aquelas coisas que as professoras de primário adoravam colocar em coisas com papier-mâché.

Não importava como era a piñata, afinal os três homens estavam vendados e embriagados de tequila (o estudante universitário ficou nesse estado apenas depois que tomou duas vezes a quantidade que o executivo e o jornalista tomaram juntos). Do jeito que estavam, poderia ter um céu de piñatas sobre suas cabeças que eles não notariam.

Trôpegos, levantavam seus pedaços de pau e davam golpes quase patéticos que geralmente apenas atingiam apenas a massa de ar que os rodeava (quando não acertavam acidentalmente uns aos outros). Depois de um tempo o executivo perguntou:

_ Alguém tem alguma noção de como arrebentar uma piñata?
_ Pô! Aí! Não sei cara... não sei nem o que é uma piñata! Pintei aqui só por conta da birita grátis! - respondeu o astuto estudante universitário
_ Pelo o que eu sei as piñatas são animais feitos de durepox. É uma expressão típica da cultura norueguesa, daí o fato de dentro dela haverem quibes! - respondeu eloqüentemente o jornalista.

Passaram mais algum tempo. O torpor da tequila já estava baixando, dando lugar a uma náusea banal. Apesar do incômodo enjôo os homens agora podiam ter um mínimo de senso de direção. Mesmo assim, suas tentativas de acertarem a piñata eram praticamente infrutíferas.

_ Meu Deus! Se pelo menos eu tivesse algum consultor, tudo seria mais fácil! Era só eu anotar tudo o que o consultor dissesse e fazer ao contrário!- reclamou o executivo
_ Putz, véi! Ah, nem! Mó cansera aí, ó! Caraí! - discursou efusivamente o estudante universitário
_ Acho que basta ficar andando em uma só direção até tocar a baqueta na piñata! - disse de maneira fria e calculista o jornalista. Pouco tempo depois acertou um golpe certeiro em algo. Era a cabeça do executivo.

O executivo levantou-se com uma grande dor de cabeça. Os outros dois ainda tentavam achar a piñata perdida na escuridão de suas vendas. O executivo, então cheio desta insólita situação, resolveu tirar a venda e acertar a piñata.

_ Acertei! Acertei! - gritou o executivo. Enchendo a mão com os mais diversos doces. Doces de todos os tipos: de goiaba, de marmelo e de batata doce. Doces embalados rusticamente em pedaços de palha, doces envoltos em celofane colorido e doces embalados em papel manteiga.

O universitário notou o que acontecera (afinal pensara em fazer a mesma coisa enquanto o executivo jazia inconsciente no chão do galpão), mas não protestou. Apenas pegou um doce da porção que havia dentro da piñata recém-quebrada, colocou na boca e se calou. (já havia entornado tantas garrafas de tequila que seria no mínimo insensato reclamar os doces do executivo!).

O jornalista deu os parabéns para o executivo e discursou sobre a falta de homens de visão que há neste vasto país. Pegou um doce e mordeu. Olhou de maneira confusa para os dois homens e exclamou:

_ Nossa! Nunca tinha visto quibe doce!

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