segunda-feira, fevereiro 02, 2004

"A outra banda do cara daquela banda!"
Uma pequena viagem pelas "bandas não-oficiais" em geral


Em uma época onde as grandes bandas se resumem a fósseis inúteis ou apenas às suas memórias... em uma época em que o rock se encontra em um marasmo enorme... em uma época em que a indústria fonográfica se agarra a qualquer banda elevando-a a "a salvação do rock"! É numa época dessas que um verso dos Ramones diz tudo: "cuz lately everything sounds the same to me!"

Na sede por novos sons, nada melhor do que apelar para algo que é geralmente muito interessante: projetos paralelos e afins. Digo "projeto paralelos e afins" para tentar achar uma forma de generalizar as "bandas de caras que são de bandas mais fodonas" sendo projetos paralelos ou não. Muitas dessas bandas foram as sementes de bandas legendárias. Falo assim também porque quando falamos em projeto paralelo entendemos que existe uma banda que corre paralela a essa, mas e quando a banda acaba e um integrante monta uma "outra banda não tão fodona"? Existem também "bandas instantâneas", bandas que existiram durante uma fração de tempo insuficiente para ser cultuada (ou pasteurizada)...

Impossível falar em projeto paralelo sem falar no "Senhor de Todos os Projetos Paralelos", o ex-vocalista do Faith No More Mike Patton. Mike Patton, para quem não sabe, é um poço insano de criatividade. Seus trabalhos com o Faith no More são suficientes para atestar que além de ser dono de uma voz que vai do crooner ("Easy") ao rock gritado ("Digging the grave"), Patton possui um senso de humor quase non-sense e uma forma de compor e arranjar que esbanja criatividade. Como se não fosse suficiente, Patton distribuiu pelo mundo do rock diversas outras bandas. A mais famosa com certeza (e mais insana) é o Mr. Bungle. A que possui figurinhas mais carimbadas é o Fantomas que conta Dave Lombardo (ex-Slayer) na bateria, Buzz Osbourne (Melvins) na guitarra e Trevor Dunn (Mr. Bungle). A menos conhecida e mais experimental é o Tomahawk. E o mais recente foi o Lovage, com o trabalho "Nathaniel Merriweather Presents Lovage: Music To Make Love To Your Old Lady", que contou com a participação de Dan The Automator, do Gorillaz.




Mike Patton: "Monte um projeto paralelo! Pergunte-me como!"




Gorillaz é uma outra banda que é citação obrigatória aqui. Encabeçada por Damon Albarn, vocalista do Blur, a banda mostrou como se pode fabricar uma banda literalmente! O trabalho mostrou como é possível ter uma banda com uma estética exacerbada sem arriscar a qualidade, fazendo um som pop que agrada aos ouvidos mais xiitas e satisfaz as paradas de rádio. A banda agradou, mas não repetiu a dose... aliás isso é algo típico dos projetos paralelos: lançar poucos cd's e se dispersarem...

Um projeto paralelo muito bom que faz parte dessa regra geral foi o Mad Season. O Mad Season foi algo do tipo "vamos fazer abanda mais grunge que poderia existir". Layne Stanley (vocalista do Alice in chains) se juntou a Mike Mc’Cready (guitarrista do Pearl Jam) e fez um som completamente diferente do que tocavam com suas bandas originais. Mad Season tem um som denso e carregado, algo meio sombrio e áspero. A banda lançou um único trabalho, o disco Above, lançado durante a grande decadência grunge em 1997, quando a maioria das bandas estava se dissolvendo.

Talvez seja a água de Seattle, mas é de lá que vem um outro projeto paralelo que teve apenas um disco lançado. O Temple of the dog foi um projeto paralelo que contou com Chris Cornell e Matt Cameron (intergrantes do falecido Soundgarden) em parceria com Mike Mc’cready, Stone Gossard, Jeff Ament e participação de Eddie Vedder. Analisando a formação podemos brincar e falar que essa era uma “mezzo Soundgarden mezzo Pearl Jam” (não tão mezzo, mas mezzo). O encontro se deu em homenagem à morte do vocalista de uma das bandas seminais do grunge, o Mother Love Bone. Assim como o Mad Season, essa é uma banda que caiu na grande regra geral dos projetos paralelos: seu único disco foi “Say Hello 2 Heaven”, lançado pouco tempo antes do Pearl Jam soltar o clássico Ten.

Existem projetos paralelos que abusam dessa coisa da efemeridade, existindo por apenas uma apresentação ou uma turnê. Um exemplo foi o que aconteceu nos protestos durante a reunião da OMC em Seattle (o que se passou pela cabeça da OMC para eles fazerem uma reunião logo em Seattle?). O clima ativista (aliado àquela questão da água que já comentamos) deu origem a uma banda que foi tão efêmera quanto bizarra. Imagine Krist Novoselic (baixista do Nirvana), junte Kim Thayil (guitarrista do Soundgarden) e adicione Jello Biafra (vocalista do Dead Kennedys). Estranho não? Pois é, o noWOT foi algo único e talvez por isso tão rápido. Pode-se achar (com muita reza brava) algo para se ouvir na internet, mas encontra-se mais relatos de pessoas que testemunharam esse acontecimento.




Seattle: maior número de bandas não-oficiais por habitantes dos EUA



Outro tipo de “banda-relâmpago” foi o Dirty Mac. Se o noWOT era caracterizado pela mistura bizarra de seus componente, o Dirty Mac pode ser caracterizado por ser uma banda de titãs (trocadilho acidental). A sua formação contava com Mitch Mitchell (o jovem e virtuoso baterista do Jimi Hendrix Experience), Keith Richards (Rolling Stones) e Eric Clapton (na época ainda no Cream)... todos eles sob a batuta de JOHN LENNON (dispensa apresentações). A banda pode ser vista no antológico “Rolling Stone’s Rock’n’roll Circus”. Sua magnitude só não é menor do que seu estigma de ser tratada como o embrião de uma das bandas mais amaldiçoadas do rock, a Plastic Ono Band.

Bandas seminais são coisas interessantes também. Afinal, ninguém se torna uma lenda logo na primeira banda. Não podemos considerar uma banda seminal um projeto paralelo, mas por força das circunstâncias nós não consideramos uma banda seminal uma banda de verdade assim por dizer... Vocês entenderam! Muita coisa boa pode ser tirada das priscas eras de um músico, e um exemplo disso foi uma banda de Seattle (“De novo? Oh meu Deus!”) chamada Green River. A banda não é tida como uma grande referência do gênero grunge, mas sua existência foi extremamente importante para o surgimento de dois dos grandes baluartes do movimento: Mudhoney (Steve Arm e Mark Arm) e Pearl Jam (Stone Gossard e Jeff Ament). A banda tem um som que pode ser considerado meio “juvenil demais”, mas é uma daquelas coisas que você ouve e vê que se trata de rock de verdade: despretencioso e puro.

Existe uma banda que possui esse mesmo trunfo, o de ter sido berço de grandes bandas. Esse trunfo só não é maior do que a de ter sido uma banda que contou com três dos maiores guitarristas do mundo. Essa banda foi o Yardbirds. A banda, que é um tópico especial na história do rock, contou com Jeff Beck, Jimi Page (leia-se DEUS) e Eric Clapton. A banda é uma referência obrigatória no rock dos anos 60, além de ter sido a origem do Cream, do Led Zeppelin e, claro, da carreira solo de Jeff Beck (que anos mais tarde montou um trio junto a Carmine e Appice). Certamente não pode existir começo mais brilhante do que esse.

Mas e quando aquela sua banda famosa acaba? O sonho acabou? Não! Existe uma infinidade de bandas que nascem das cinzas de outras. Dois exemplos disso são o Velvet Revolver e o Slash’s Snake Pit. Enquanto Axl Rose tenta lançar o álbum Chinese Democracy antes da sua morte, os ex-integrantes do Guns’n’Roses trilham caminhos muito mais promissores. O Velvet Revolver conta com o vocal de Scott Weilland, o tresloucado vocalista do Stone Temple Pilots, e com um repertório que surpreende e transcende o Hard Rock. Com o Slash’s Snake Pit não é diferente, a banda de Slash bota para quebrar aliando peso e virtuosidade.

Um outro exemplo de “banda-fênix” é o Audioslave. A união dos remanescentes do Rage against the machine com Chris Cornell (olha ele aí de novo!) já era há muito tempo vigiada pelos fãs de ambos os lados. Apareceu primeiramente na internet sob o nome de Civillian e foi vista com certo ceticismo tanto pelas gravadoras quanto pelo público. Em 2002 a união foi oficializada sob a forma do Audioslave. A banda é atacada pelos mais xiitas por ser uma banda com apelo comercial tão grande, no entanto estes radicais não vêem o verdadeiro valor do Audioslave: ter salvado Chris Cornell de uma carreira-solo feita a base de baladinhas como ele estava fazendo.

Ao contrário do casamento e da política, na música a infidelidade é uma virtude... e que gera muita coisa boa! Procure! Com certeza algum membro de alguma das suas bandas favoritas já pulou a cerca. Confira! Se não valer a pena, vale pela curiosidade!

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