quarta-feira, março 24, 2004

As melhores do Devil's Dictionary, de Ambroise Bierce

ME, pro. The objectionable case of I. The personal pronoun in English has three cases, the dominative, the objectionable and the oppressive. Each is all three.

MERCY, n. An attribute beloved of detected offenders.

EGOTIST, n. A person of low taste, more interested in himself than in me.

EDUCATION, n. That which discloses to the wise and disguises from the foolish their lack of understanding.

ENTERTAINMENT, n. Any kind of amusement whose inroads stop short of death by injection.

IDIOT, n. A member of a large and powerful tribe whose influence in human affairs has always been dominant and controlling. The Idiot's activity is not confined to any special field of thought or action, but "pervades and regulates the whole." He has the last word in everything; his decision is unappealable. He sets the fashions and opinion of taste, dictates the limitations of speech and circumscribes conduct with a dead-line.

CARNIVOROUS, adj. Addicted to the cruelty of devouring the timorous vegetarian, his heirs and assigns.

VANITY, n. The tribute of a fool to the worth of the nearest ass.

RADICALISM, n. The conservatism of to-morrow injected into the affairs of to-day.

REBEL, n. A proponent of a new misrule who has failed to establish it.


Gostou? Clica aqui!
N?o gostou?

MAD, adj. Affected with a high degree of intellectual independence; not conforming to standards of thought, speech and action derived by the conformants from study of themselves; at odds with the majority; in short, unusual. It is noteworthy that persons are pronounced mad by officials destitute of evidence that themselves are sane. For illustration, this present (and illustrious) lexicographer is no firmer in the faith of his own sanity than is any inmate of any madhouse in the land; yet for aught he knows to the contrary, instead of the lofty occupation that seems to him to be engaging his powers he may really be beating his hands against the window bars of an asylum and declaring himself Noah Webster, to the innocent delight of many thoughtless spectators.







quarta-feira, março 17, 2004

Bizarrices Regionais

As grandes redes abertas de TV talvez sejam o alvo mais fácil na discussão acerca da problemática da massificação na mídia brasileira. Geralmente vistas como arautos da globalização, as redes abertas são apontadas como agentes homogenizadores da opinião pública e da identidade brasileira. A imagem nacional retratada na TV aberta é de um Brasil que geralmente não passa de um grande eixo Rio - São Paulo - Salvador.

O problema parece ser um grande monstro de 7 cabeças, no entanto ele é facilmente resolvido. As redes de TV são obrigadas, por lei, a ceder uma quantidade de horários voltados para uma programação regional. “Glória, glória! Terá espaço para todos. Do Boi Bumba às rodas de chimarrão!”, diriam os amantes das culturas regionais de cada canto do país. Mas o que ocorre é bem diferente do real intuito da lei. A programação regional é recheada geralmente de programas que não passam de imitações grotescas dos mais batidos programas da TV aberta. O que ocorre é que temos novos Ratinhos, Marcias e Leões com inúmeros sotaques.

Quem mora em Goiânia conhece o programa “Altos Papos”. Um programa de “variedades” com uma apresentadora que poderia ilustrar o verbete “emergente” de um dicionário. O programa mais parece um chá das 5 com toda uma aura “nouveau riche”. As variedades tratadas no programa poderiam ser substituídas pela transcrição de um diálogo em qualquer salão de beleza. Em Brasília, pode-se assistir um programa nos mesmos moldes mas com um nome mais inusitado: “Mais que emergente”. O congênere brasiliense ainda conta com o luxo de eventuais externas e entrevistas de rua.

Outro grande filão dos programas regionais são as mesas redondas. O mais impressionante destes programas talvez não seja a capacidade de se opinar tanto sobre esportes tendo-se tantas camadas adiposas, mas sim a capacidade de se opinar tanto sobre tudo baseando-se em conceitos que beiram a ingenuidade. Fala-se não apenas sobre futebol mas também sobre política local, segurança e até questões de ordem social. Se fecharmos os olhos e continuarmos a ouvir o programa poderemos imaginar uma porção de pasteizinhos e alguns copos de cerveja quase vazios.

Mas ainda existem na fauna de programas regionais os famosos “formadores de opinião”. Jornalistas, em sua maioria, que vêm a público para iluminar a ignóbil audiência com suas palavras sensatas e sinceras, dando-lhes noção do que se passa por trás da cortina da política e da economia, mistérios unicamente decifrados por ele graças aos seus inúmeros diplomas nas mais diversas ciências. Suas opiniões são cobertas por um prosaísmo e um pragmatismo que beiram a estupidez, seus textos são de uma demagogia mista a uma pieguice que fazem um populista de carteirinha se sentir ultrajado e seu conhecimento dos fatos tratados são da profundidade de um pires. Uma figura que ilustra bem este caso é o jornalista goiano Rosenwall Ferreira, sujeito quase cômico que fala sobre os mais diversos assuntos como se estivesse em um boteco em um discurso demagogo e marcado por uma forçada informalidade.

São muito comuns nas programações regionais também programas do tipo “mundo cão”. Esses programas são de uma truculência visual tamanha que chegam a infringir direitos humanos. Os apresentadores entrevistam os delinqüentes em meio a chacotas e as mais diversas humilhações inclusive forçar o criminoso a destampar o rosto (o que constitui não só uma violação do seu direito como ser humano como sobre sua imagem). Programas desse tipo apresentam um outro caráter extremamente nocivo: são o retrato de um pensamento retrógrado de que a razão da criminalidade encontra-se em si mesma, justifica silenciosamente a execução sumária e apóia veladamente a pena de morte como solução para o “extermínio da bandidagem”.

O problema da programação regional não está na questão do que vem sido veiculado, mas do que poderia estar sendo. O colunismo social, a crítica futebolística de várzea, o pseudo-jornalismo crítico demagogo e a truculência policial ocupam o espaço que era destinado a uma programação de valor local. No caso da TBC – Cultura em Goiânia esse caso é ainda pior, pois a prestigiada e premiada programação da Fundação Padre Anchieta encontra-se minada com esta espécie de circo de horrores. Muitos programas culturais e informativos são perdidos em nome de uma expressão pseudo-regional. É extremamente estúpido que Goiânia, um lugar em recente (e crescente) expansão do meio independente não possua um programa nos moldes do “Alto-Falante” apresentado na Rede Minas. Em seu lugar, temos uma fauna de apresentadores bizarros e programas bisonhos.

O problema na programação regional é o mesmo que em qualquer meio de comunicação de massa: está relegado à lei de oferta e procura. O patrocinador deseja audiência certa, e não arriscar-se com programas que fujam da lógica do “panis et circenses” televisivo. Se o regional se constituir em uma mistura de emergentes, comentaristas obesos, polemistas de mesa de jantar e justiceiros da classe média... que venha o grande Rio - São Paulo - Salvador . Pelo menos eu vou ter acarajé com chopps...

terça-feira, março 09, 2004

Metablogagem I

O assunto blog é um tema extremamente confuso quando se trata da análise desse fenômeno. Uma das poucas áreas de produção livres e espontâneas ou mais um tentáculo da tão temida cultura de massa? Forma de expressão válida ou mera futilidade egocêntrica? Temos um tema extremamente confuso e principalmente tendente à parcialidade (principalmente quando tratado por um blogueiro).

Quais os ganhos que alguém tem na publicação de um blog? Quais os gastos? Basicamente zero. A independência da questão financeira é algo que nos faz pensar que o blog possui uma maior espontaneidade. Um blog, a priori, é um espaço livre para a expressão de coisas suas que vão do seu colega de sala que te enche até um ensaio sobre um tema que você seja familiarizado. Ou seja, do ponto de vista da produção de um blog a ligação dele com a mídia de massa se torna estúpida. Como os blogs podem ser encarados como produtos sendo que a questão da reprodutividade não se aplica a eles. No entanto, o fenômeno não se finda com a sua produção. E quem está do outro lado? Qual a real natureza da sua fruição? Estas são questões muito complexas, afinal não isso é algo impossível de se avaliar. Isso mostra que a análise de um blog depende (às vezes) muito dos seus leitores do quem produz o blog.

Algo muito comum de ocorrer entre aqueles que ligam os blogs à cultura de massa é a questão de que estes se encontram hospedados em servidores de empresas participantes da “elite-má” do capitalismo. Esse é um argumento no mínimo maniqueísta que ignora o fato de que o conteúdo de um blog não é influenciado pelo “dono do servidor”. É claro que o espaço que usamos para publicar nossos blogs não é uma dádiva da boa-vontade dos servidores, a maioria dos blogs possuem banners de propaganda em seus cabeçalhos. Na minha opinião, um preço bastante razoável para poder exercer de forma mais abrangente minha liberdade de expressão.

A crítica aos blogs muitas vezes se dá de uma maneira muito vinculada àquela batida dicotomia “dominadores e oprimidos”. Os oprimidos, que não possuem acesso à internet, são privados do fenômeno “blog”, logo os blogs são mais uma das perversas formas de exclusão das beatificadas minorias. Esta é uma crítica que tropeça de maneira tosca em um maniqueísmo cego que não enxerga que mesmo as mais bem intencionadas vanguardas nasceram em berço de ouro (sem querer elevar os blogs ao status de vanguarda, mas pelo menos como forma de expressão).

Falando em vanguarda, alguns vêem a escrita concisa e objetiva dos blogs como sendo uma tendência. Tal afirmação é carregada de uma inocência deslumbrada. A escrita concisa comum aos blogs tem um caráter muito mais funcional do que estilístico. Escrever conteúdo para internet demanda de uma certa objetividade (assim como quase todo meio de comunicação de massa) que é mais acentuada nesse meio devido ao desconforto de se ler um texto em um monitor (aliás seguindo esta ótica da funcionalidade, eu realmente não entendo como este blog de textos ainda é visitado). O velho e batido argumento de que a concisão leva à superficialidade é uma generalização típica de pessoas que não notam que na escrita a forma não denomina o conteúdo.

Podem não serem maravilhas da criação humana, mas os blogs permitem que as pessoas se expressem de forma livre na internet. A maioria das pessoas enxergam os blogs como sendo diários pessoais fúteis e sem propósito, criações que giram em torno do narcisismo de seus escritores ou um espaço para se implantar uma rede de intrigas análoga aos grupinhos de 2º grau (quando as pessoas de 20 e tantos anos transcenderão seus 15?). Sim, a maioria dos blogs são assim e seria uma estupidez tremenda falar o contrário. No entanto, resumir-se a meramente sentar na frente do computador e criticar a superficialidade alheia é algo igualmente estúpido. Alguns blogs mostram isso, servindo de espaço para expressão e discussão dos mais diversos temas. O exemplo mais evidente para mim vem de uma área completamente desprovida de qualquer vínculo com a comunicação (no seu aspecto de ciência): INFORMÁTICA. Pessoas que escrevem sobre TI e seus mais diversos temas saíram da clausura das listas de discussões e dos newsgroups para expor suas idéias em canal aberto a fim de serem conhecidos e discutidos. Se acham que autores de blogs são apenas adolescentes (e pós-adolescentes) pseudo-intelectuais metidos a rebeldes se enganam, eles também podem ser senhores dos seus 30 ou 40 anos que ganham salários de 5 dígitos e estão se lixando se o João Gordo é ou não um traidor do movimento punk.

O fenômeno blog está em franco definhamento, isso é visto com aquela visão típica de decadência. Eu não concordo, ultimamente tenho conhecido blogs bem escritos e extremamente interessantes. A hegemonia dos blogs cor-de-rosa e de cliques piscantes está em crise graças aos fotologs (esses sim, viraram em grande parte depósito de futilidades). Através da diversidade dos blogs nós temos idéia tanto da diversidade quanto da tendência à lugares-comuns que temos enquanto produtores e consumidores das mais diversas formas de comunicação (mainstream, underground, popular...). Talvez uma coisa seja ponto comum no que tange os blogs: seja num diário de um rebelde-sem-causa ou num coletivo anarquista, o feed-back é essencial!