segunda-feira, dezembro 24, 2007

O Chifre através da Literatura Brasileira

Barroco
"Ela me chifrou,
numa traição cheia de amor"

Arcadismo
"Deitada na relva da colina
ela me chifrou com um pastor"

1ª Geração do Romantismo
"A índia me chifrou."

2ª Geração do Romantismo
"Até morta ela me chifrou!"

3ª Geração do Romantismo
"Ela me chifrou com todos os escravos da senzala."

Realismo
"Deslumbrada nos salões da burguesia carioca, ela me chifrou"

Naturalismo
"Suada e ensandecida, ela me chifrou com doze matutos."

Simbolismo
"Perdida em seu destino celestial,
ela me chifrou como uma Vênus matinal"

Modernismo
"Parangolê-core-colá. Ela me chifrou."

Guimarães Rosa
"Num tutaméia de vividinho, ela me chifrou no meio do caminho."

Graciliano Ramos
"Cheguei em casa. Ela estava me chifrando com o cachorro Ricardo. Fiquei calado."

Ferreira Gullar
"chifre
Chifre
CHifre
CHIfre
CHIFre
CHIFRe
CHIFRE
ENFIM
CORNO"

Rubem Fonseca
"Foram noites e noites regadas a vinho Tokai e beijos. Até que ela me chifrou. Aquela vaca!"

Literatura Contemporânea
"Ela mi xifrou. I eu fikei assim... ó... :("

segunda-feira, outubro 29, 2007

Instant Karma

Uma porta se abre no meio da penumbra subterrânea. O que você vê pela fresta é luz. Branca e ardida. Você sente uma brisa fria de ar condicionado. É um convite. A coisa no começo parece ser um oásis no meio do bafo do concreto a 40ºC. Lá dentro, os inúmeros pares de lâmpadas fluorescentes abastecem a imensidão branca. As paredes claras funcionam como um capacitor de luz. Bem vindo à sua dose de iluminação.

As paredes são duras. Sua cabeça é bombardeada por todos os lados por um som esganiçado e alto. O som fica reverberando da fórmica da parede até o gesso do teto, espalhando-se pelo piso de azulejo até o fundo da sala onde as janelas tremem. Você pode ouvir a saturação do som. Alguém está gritando por um microfone.

O microfone está na mão de uma senhora de jaleco branco. Baixa e gordinha, suas bochechas incham nos poucos momentos em que pega ar. As palavras saem de sua boca como uma grande massa. Em um volume tão alto que o som crepita eventualmente. Ela fala do fogo do inferno e da danação eterna. Ela fala de leprosos que perdiam parte da perna. Como um disco. Às vezes arranhado, às vezes de traz para frente.

De vez em quando você a ouve bufando. Depois de soltar todo ar de seu pulmão, ela finalmente respira. Após tantas revelações, preces e garatujas incompreensíveis, seu cérebro já implora por oxigênio. Uma dose quase narcótica de oxigênio. Na sala algumas pessoas estão agachadas com seus pulmões comprimidos. Pense em um número hipotético de ex-fumantes ou pessoas cardíacas. Lembre-se dos moleques no fundo da sala fazendo P-10 tentando desmaiar. Agora pense no número de pessoas gozando de uma saúde normal.

Não seria de espantar se você cair no chão com as pernas bambas. Se você tiver labirintite ficará tonto como se tivesse bebido tequila. Caso queira continuar em pé, não feche os olhos. E não comece a repetir os estribilhos enérgicos, que de quando em quando crepitam pelo ar. Ande e vá tomar uma água. Vá ao banheiro. Se quiser passar mais tempo por aí faça isso periodicamente. Mas seria melhor que você saísse.

Mas de forma alguma vá para a frente. Não vá para a luz. Talvez sua timidez seja sua única defesa. Assim seu sangue estará mais próximo do cérebro. Lá as pessoas taparão seus olhos com as mãos. Rodeadas em torno de você e arfando, não vai sobrar muito ar para se respirar. O som vem direto das caixas de som em direção a você. Você será bombardeado por um câncer a ser curado, uma família desestruturada pedindo socorro, um vício que te prejudica silenciosamente. Promessas de um futuro melhor e sem os fantasmas que te assombram.

Assim de perto, você sente o cheiro de alfazema da senhora que extende a mão na sua cabeça. Vestida com o jaleco branco, ela parece trabalhar em um açougue.

Talvez você caia de joelhos logo de uma vez. Comece a falar enrolado com seus olhos virem. Talvez você tivesse epilepsia e não soubesse. Talvez todas as pequenas porções de química restante no seu corpo resolvam voltar a correr nas suas minúsculas veias do cérebro. Mas não se apavore. Tudo vai acontecer muito rápido. Será o tempo de você sair logo recebendo uma benção. Talvez renovado, talvez com pressa.

Depois disso tudo, apenas pense duas vezes antes de queimar seus melhores discos no outro dia...

domingo, outubro 21, 2007

1,2,3... Testando...

Este teste é legal!

http://www.chuckpalahniuk.net/images/author/test/tender.jpg

sábado, setembro 22, 2007

não se explique

Era uma garota normal, beirando o ordinário. Mas naquele jantar em meio às jornalistas de cultura, produtoras musicais, cenógrafas de teatro e pintoras naïf ela se destacava de maneira surreal.

Quem era? Amiga de quem? Alguém estava pegando? Ela andava alheia de grupo em grupo. Quem era o dono da casa? Seria filha dele? Seria a mulher dele? Seria a companheira de alguma cantora de bar? Quem era?

O vestido era simples, mas a maquiagem era carregada. Seria uma garota de programa? A troco de quê? Garotas de programa também saem para se divertir. Mesmo quando não são pagas para isso. E quem garante que elas são pagas para se divertir. E quem garante que elas se divertem. Sem digreções. Ela não é uma garota de programa.

O jeito tímido dela abordar os garçons quando eles passam com os canapés ou com as taças de champagne me deixa mais curioso. Ela não é desse mundo. Não vamos ter uma conversa excitante sobre cinema iraniano. Isso me deixa aliviado.

Quem é ela? Vou tentar falar com ela...

"Meu nome é Giselaine..."

E começamos a conversar...

Ela conversa emendando uma palavra na outra. Seu jeito de falar é meio brusco. A cada frase ela toma o ar com a boca e continua com um “é por’quê”, “intão”.

Eu ouviria os piores erros de português vindos daquela boca...

sexta-feira, agosto 24, 2007

O bonito é o esquisito

É tudo culpa do Duchamp. Agora todo pseudo-freak tem por direito o título de artista. Depois do ready-made parece que ficou fácil. É só ser esquisito. Qualquer coisa dodecafônica-dadaísta-psicodélica. É só fazer bagunçado.

Quer dizer, não é bem assim. Tem que ter um mínimo de estilo. Nem que se copie. “Eu faço arte para chocar!”, fala o artista com seu cavanhaque levantado. Ele carrega um porco na coleira enquanto segura seu conhaque com a outra mão. Temporada passada estava pelado em algum lugar. Agora ele pegou suas roupas e as colocou ao contrário. “Artista relê a própria obra!”, elogia o crítico do jornal.

Imagine um ovo cozido dentro de uma galinha. A galinha dentro de um carneiro. O carneiro dentro de um camelo. Os beduínos fazem isso em dias de festa. Se fizessem isso em um atelier e tentassem enxergar na gema o núcleo da vida que se expande por toda a cadeia alimentar e nos chega como alimento eles não eram beduínos seriam artistas. Beduínos vestidos em camisas de golas extravagantes e ternos com padrões que se você vir bem de perto formam uma figura em 3-D de um elefante equilibrando uma melancia na ponta da tromba.

É só fazer para chocar. Se for teatro o pai come a filha, se for dança é só simular um ataque epilético. Se for cinema ninguém deve entender. Até você dá conta! Pinte de patins, escreva de trás para frente e sem usar vogais. “Eu procuro mostrar com isso a dificuldade que tenho para escrever transformando isso em uma dificuldade de se ler”. É só procurar uma desculpa espirituosa.

Ninguém tem coragem de olhar para o busto feito com peças de carne e dizer que é feio. Só pessoas que não estão abertas a novas experiências diriam uma heresia dessas. Aqueles que não entendem de arte. Eles não conseguem ver o erotismo em uma série de fotografia intravaginal. A “virtuose do cunt-art” para eles é "só uma buceta por dentro”.

A verdade é que parece que o feio não existe mais. O belo parece vir de uma idéia meritocrática da arte. Logo, o teto da Capela Sistina, as gravuras de Picasso, as paisagens de Hopper e uma escultura de pulmão montada com quimbas de cigarro são a mesma coisa. É tudo uma questão de perspectiva. Mas tudo é uma questão de perspectiva. Se a minha vó fosse uma porca ela teria três carreiras de peito e seria exposta na bienal. E diante dos críticos e de toda vanguarda artística eu falaria da “desconstrução da imagem da vovó” e seria aclamado como o novo gênio da arte pós-moderna. Como se eu tivesse feito a minha vó com três carreiras de peito. Um golpe de mestre.

Na era da esquisitice, a rebeldia está na proporção áurea e na linha reta. O artista acorda, vai para o trabalho, chega em casa e dorme. Escreve um soneto de vez em quando.

domingo, julho 29, 2007

Post hiatus resolutions 2

Então eu volto a publicar o que eu escrevo. Sempre achei meio patético escrever para engavetar. Há alguns meses eu estou com internet em casa de novo e tudo o que eu faço é sentar na porra do orkut e ficar entrando em comunidades bizarras. Quando eu tinha um 486 e era o típico estudante de segundo grau em Goiânia - naquela época metade da sala queria ser dotô e comprar uma fazenda e a outra queria ser adevogado. Hoje eu acho que tem mais uma metade querendo virar artista. Isso passa filho! - eu escrevia mais. Não devia prestar, mas eu escrevia mais. Alguns ensaios doentes e uma poesia que só fiz porque concorria a 200 reais (merreca que para um moleque de 17 que não bebia nem fumava era dinheiro mais que o suficiente para torrar nos sebos e fliperamas).

Mas daí eu penso se o que eu escrevo realmente presta. Putz, muita gente boa fala que sim. Mas muito leitor de Nick Hornby também gosta. Puta que pariu! Será que eu já escrevi algo que preste. Passei um tempão resenhando disco e fazendo crítica de show para o cybergoias.com (resquiat in pace). Resenhas de quinze páginas de word, uma pá de shows criticados às cegas, algumas tiradas metidas a sacana. Minha caixa de email sempre tinha alguém de banda comentando críticas. Eu sabia mais ou menos para onde estava indo (ou pelo menos tinha alguém para dizer que tava uma bosta)...

Também sempre achei ruim falar de mim. A única coisa que presta no jornalismo é o precedente de que o repórter nunca é personagem da matéria. Eu acho isso demais. Daí eu me pego chorando as pitangas da minha inutilidade. Assim, exposto. Puta merda! É claro que eu comecei o "Putz... Morri!" num estilo diário. Caralho, eu era o que eu odeio! Hoje eu sei que minha vida não é tão interessante e meus dramas e conflitos não ocupariam duas linhas de um romance russo do final do século XIX. Talvez o nome disso seja maturidade.

Ou talvez escrever seja algo que parta de dentro para fora que eventualmente volta para dentro. A gente começa falando da gente para depois falar dos outros para depois falar mal dos outros (que é muito divertido) para depois escrever sobre nada para depois voltar para casa e ficar ouvindo música e lendo o que bem entender.

Pensei que com as férias poderia escrever em paz. Pfff! É meio difícil escrever quando se fica em casa eu acho. O meio, a mensagem, o emissor e receptor se tornam o mesmo ruído doente que fica sentado na frente do computador digitando alguma coisa que não vai ser terminada até que a merda do Pan acabe ou que o caos aéreo sejam resolvidos.

Toda vez que ligo a TV o que vejo é avião caído e pan. Eu poderia escrever sobre isso. Mas eu odeio esportes. E não me vejo no direito de comentar nada sobre a tragédia de São Paulo.

No mais é sentar no computador e ter o impulso kamikaze de escrever sem a verificação ortográfica do Word. Direto no blogger. Porque eu tenho teto de vidro e estou pouco me lixando. Eu atiro pedra mesmo. E se acertar mulher feia é ponto!

segunda-feira, julho 23, 2007

Meta Hai kai

Três linhas concisas
com jeito meiguinho
e ar de mestre kung-fu

>BONG!<

quinta-feira, julho 19, 2007

post hiatus resolution

Então “escrever é a arte de cortar palavras”. A frase por si só é uma aula sobre como escrever. Efeito, categoria e economia. Seco na medida, mas mesmo assim com uma gordurinha ali no meio. Não se trata de palavras a mais, mas de sentidos e significados.

Vamos brincar. Alguém escreve algo. Como? Hum... como ele bem entender. Eu acho. Drummond falou muito bem sobre o que é escrever nesse epíteto. Não é de se estranhar que ele seja poeta. Numa correlação estapafúrdia, eu vejo a poesia fosse o “peixe” da escrita.

Peixe é uma coisa engraçada. Para começar ele mora na água e bota ovos. Geralmente não tem gordura. Quando tem o gosto é geralmente horroroso. Me dá uma náusea nojenta. E tem os espinhos ainda. Eu acho que o único jeito seguro que existe de comer peixe é cru em uma porção de sashimi.

É claro que ainda existe a Paella e a moqueca e o pirão, mas isso não é só peixe, entende? É peixe mais um monte de coisa. Por isso que fica gostoso. Eu acho.

Mas de vez em quando, rola de comer uns filés de salmão, arenque, adoque, truta... que puta que pariu! Mas eu sei a coisa melindrosa que é fazer isso. Parece simples. É só um pedaço de peixe colocado em uma frigideira quente. Mas acontece que peixe é uma coisa que pega sal fácil, que passa do ponto fácil e que fica sem graça fácil. É muito fácil fazer peixe ruim...

Mais fácil ainda é escrever mal... puta que pariu, se é! É por isso que eu gosto disso. Aquela coisa de verso. Parece que o texto tá escorrendo na página em um filete. Poesia é que nem comida japonesa. Quem já se empanturrou de sushi e sashimi? É esquisito, você sente uma saciedade sóbria. Você sabe que você não agüenta mais antes de colocar um derradeiro sushi na boca. Quando você aperta aquela rodela de alga, arroz, peixe e coisinhas com os hashis você pensa conscientemente “não” e dá um gole na coca-cola (sim, eu como comida japonesa tomando coca-cola).

Acho bonito, saudável até, mas foi mal... eu prefiro escrever assim. Dá pra fazer picanha, feijoada, rabada... dá para entupir os olhos de colesterol literário. Eu acho legal.

Não acredito que o papel de quem escreve é fazer a vida das outras pessoas mais gostosa ou qualquer coisa. Eu acredito no "escreva e os outros que se virem" e concordo que seja uma tática suicida em um país com niveis de analfabetismo estratosféricos. Se existe um discurso em torno da ética e todo o blá-blá-blá "vamos livrar o mundo das cáries", eu me vejo no direito de ser sincero comigo mesmo.

Mas eu não estou aqui para fazer o papel que as professoras de português mal amadas
do segundo grau não fazem direito. Aliás, acho que quando você tem um propósito para escrever é o primeiro passo para se escrever mal. Seja panfletário, afetado, piegas ou burocrático.

Eu sei lá porque eu escrevi isso...