terça-feira, março 09, 2004

Metablogagem I

O assunto blog é um tema extremamente confuso quando se trata da análise desse fenômeno. Uma das poucas áreas de produção livres e espontâneas ou mais um tentáculo da tão temida cultura de massa? Forma de expressão válida ou mera futilidade egocêntrica? Temos um tema extremamente confuso e principalmente tendente à parcialidade (principalmente quando tratado por um blogueiro).

Quais os ganhos que alguém tem na publicação de um blog? Quais os gastos? Basicamente zero. A independência da questão financeira é algo que nos faz pensar que o blog possui uma maior espontaneidade. Um blog, a priori, é um espaço livre para a expressão de coisas suas que vão do seu colega de sala que te enche até um ensaio sobre um tema que você seja familiarizado. Ou seja, do ponto de vista da produção de um blog a ligação dele com a mídia de massa se torna estúpida. Como os blogs podem ser encarados como produtos sendo que a questão da reprodutividade não se aplica a eles. No entanto, o fenômeno não se finda com a sua produção. E quem está do outro lado? Qual a real natureza da sua fruição? Estas são questões muito complexas, afinal não isso é algo impossível de se avaliar. Isso mostra que a análise de um blog depende (às vezes) muito dos seus leitores do quem produz o blog.

Algo muito comum de ocorrer entre aqueles que ligam os blogs à cultura de massa é a questão de que estes se encontram hospedados em servidores de empresas participantes da “elite-má” do capitalismo. Esse é um argumento no mínimo maniqueísta que ignora o fato de que o conteúdo de um blog não é influenciado pelo “dono do servidor”. É claro que o espaço que usamos para publicar nossos blogs não é uma dádiva da boa-vontade dos servidores, a maioria dos blogs possuem banners de propaganda em seus cabeçalhos. Na minha opinião, um preço bastante razoável para poder exercer de forma mais abrangente minha liberdade de expressão.

A crítica aos blogs muitas vezes se dá de uma maneira muito vinculada àquela batida dicotomia “dominadores e oprimidos”. Os oprimidos, que não possuem acesso à internet, são privados do fenômeno “blog”, logo os blogs são mais uma das perversas formas de exclusão das beatificadas minorias. Esta é uma crítica que tropeça de maneira tosca em um maniqueísmo cego que não enxerga que mesmo as mais bem intencionadas vanguardas nasceram em berço de ouro (sem querer elevar os blogs ao status de vanguarda, mas pelo menos como forma de expressão).

Falando em vanguarda, alguns vêem a escrita concisa e objetiva dos blogs como sendo uma tendência. Tal afirmação é carregada de uma inocência deslumbrada. A escrita concisa comum aos blogs tem um caráter muito mais funcional do que estilístico. Escrever conteúdo para internet demanda de uma certa objetividade (assim como quase todo meio de comunicação de massa) que é mais acentuada nesse meio devido ao desconforto de se ler um texto em um monitor (aliás seguindo esta ótica da funcionalidade, eu realmente não entendo como este blog de textos ainda é visitado). O velho e batido argumento de que a concisão leva à superficialidade é uma generalização típica de pessoas que não notam que na escrita a forma não denomina o conteúdo.

Podem não serem maravilhas da criação humana, mas os blogs permitem que as pessoas se expressem de forma livre na internet. A maioria das pessoas enxergam os blogs como sendo diários pessoais fúteis e sem propósito, criações que giram em torno do narcisismo de seus escritores ou um espaço para se implantar uma rede de intrigas análoga aos grupinhos de 2º grau (quando as pessoas de 20 e tantos anos transcenderão seus 15?). Sim, a maioria dos blogs são assim e seria uma estupidez tremenda falar o contrário. No entanto, resumir-se a meramente sentar na frente do computador e criticar a superficialidade alheia é algo igualmente estúpido. Alguns blogs mostram isso, servindo de espaço para expressão e discussão dos mais diversos temas. O exemplo mais evidente para mim vem de uma área completamente desprovida de qualquer vínculo com a comunicação (no seu aspecto de ciência): INFORMÁTICA. Pessoas que escrevem sobre TI e seus mais diversos temas saíram da clausura das listas de discussões e dos newsgroups para expor suas idéias em canal aberto a fim de serem conhecidos e discutidos. Se acham que autores de blogs são apenas adolescentes (e pós-adolescentes) pseudo-intelectuais metidos a rebeldes se enganam, eles também podem ser senhores dos seus 30 ou 40 anos que ganham salários de 5 dígitos e estão se lixando se o João Gordo é ou não um traidor do movimento punk.

O fenômeno blog está em franco definhamento, isso é visto com aquela visão típica de decadência. Eu não concordo, ultimamente tenho conhecido blogs bem escritos e extremamente interessantes. A hegemonia dos blogs cor-de-rosa e de cliques piscantes está em crise graças aos fotologs (esses sim, viraram em grande parte depósito de futilidades). Através da diversidade dos blogs nós temos idéia tanto da diversidade quanto da tendência à lugares-comuns que temos enquanto produtores e consumidores das mais diversas formas de comunicação (mainstream, underground, popular...). Talvez uma coisa seja ponto comum no que tange os blogs: seja num diário de um rebelde-sem-causa ou num coletivo anarquista, o feed-back é essencial!

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