domingo, novembro 23, 2003

"O bom e velho rock'n'roll"

Tá certo que o Noise passou faz tempo... e que a poeira já baixou... e que ninguém fala mais do festival. E é por isso mesmo que eu resolvi depois de quase um mês falar do Noise (Mentira! Eu não falei antes por preguiça mesmo!)...

O IX Goiânia Noise Festival aconteceu no começo desse mês no Jóquei Clube de Goiânia. Foram três dias de shows que realmente valeram os reais gastos nos ingressos. Tudo bem que não houve nenhuma banda que fosse uma grande novidade em GYN, a maioria das bandas já haviam tocado na cidade. A qualidade geral das bandas estava muito boa, boa suficientemente para fazer deste pequeno detalhe um mero dado estatístico talvez. A infraestrutura do festival passou para um nível além daquele que estávamos acostumados.

Essa melhora na infraestrutura é muitas vezes vista como um pomo da discórdia. Estaria o Noise se comercializando, até chegarmos ao nível de haverem convites VIP's, camarotes e essas coisas típicas de micarê? Até que ponto essa melhora pode não só tornar o Noise mais comercial, bem como tirar o aspecto independente do festival?

As lembranças dos diversos Noise's realizados no Martim Cerere, no Cine Santa Maria ou na E.T.F.G. (atual CEFET) são realmente legais. Tempo que organizar show em Goiânia era chamar as bandas, comprar birita, panfletar e no máximo fazer cartazes (lembrar desse tempo faz com que o ar cheire a pingorante e catuaba). O festival era feita de maneira semi-toska, a maioria das bandas era da cidade e não sei quantas pessoas foram para os festivais dessa época sem ter idéia das bandas que iriam tocar. Era completamente "Teenage fun"... Em um tempo em que metade da cidade ia na Pecuária enquanto a outra ia para o CarnaGoiânia...

Mas passaram-se 9 anos desde o primeiro Noise (4 desde o primeiro que eu fui), e em 9 anos as coisas crescem. Pouco menos da metade das bandas que tocaram nesse festival eram da cidade. A dimensão do lugar e o público fez com que a frase "A gente se encontra no Noise!" se tornasse quase uma impossibilidade. O primeiro dia de Noise teve uma quantidade considerável de pessoas que não se vê nos showzinhos que rolam durante o ano, pessoas que foram para um festival de música independente como se fossem para uma "balada" (argh!). Esse imprevistos eram praticamente previsíveis (e em parte até recorrentes de edições mais recentes, mas desta vez em dimensões maiores) e podem ser vistos como mera "frescura". Mas essa "frescura" não parte de qualquer grupo de pessoas, parte das pessoas que vão aos showzinhos que rolam o ano inteiro na cidade e das pessoas que viram o Noise crescer. Essa "frescura" não é só fruto do mero incomôdo de não ter encontrado todos os seus amigos que foram ao Noise, nem da aporrinhação de dar de cara com aquele playboy nojento que você tem que aturar todo dia no seu trabalho ou na faculdade... essa "frescura" é fruto da nostalgia do "bom e velho Noise"...

Esse IX Noise Festival pode ser visto como um divisor de águas. uma espécie de "o bom e velho Noise se foi!". O Noise ganhou tamanho, qualidade e principalmente credibilidade. Essa edição do Noise fez (ainda mais) o filme de Goiânia no meio underground e deu uma projeção considerável para a cena goiana. É um festival desse que chama a cada edição mais e melhores bandas.

Goiânia Rock City não é um lema pretencioso (como alguns falam aqui de dentro do quadradinho)! Quantas cidades possuem um festival do porte do Noise ou da Bananada sem um patrocínio considerável (TIM fest e BMF por exemplo)? As coisas crescem e resistir a isso é algo normal. Se o festival vai se tornar uma versão rock'n'roll do CarnaGoiânia? Acho que as pessoas são naturalmente sensatas e não tirariam todo o tempero outsider que o Noise possui (afinal de contas, em essência esse é o seu maior atraente). Não é sobre "lutar contra o sistema" ou algo do tipo... é sobre rock'n'roll!

O dia em que bandas consideráveis do meio independente tocarem em Goiânia no Noise, ainda lembraremos de todo pingorante gasto até chegar a esse ponto e o fato de o festival estar cheio de pessoas "nada haver" será uma pequena apurrinhação...

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