quinta-feira, julho 19, 2007

post hiatus resolution

Então “escrever é a arte de cortar palavras”. A frase por si só é uma aula sobre como escrever. Efeito, categoria e economia. Seco na medida, mas mesmo assim com uma gordurinha ali no meio. Não se trata de palavras a mais, mas de sentidos e significados.

Vamos brincar. Alguém escreve algo. Como? Hum... como ele bem entender. Eu acho. Drummond falou muito bem sobre o que é escrever nesse epíteto. Não é de se estranhar que ele seja poeta. Numa correlação estapafúrdia, eu vejo a poesia fosse o “peixe” da escrita.

Peixe é uma coisa engraçada. Para começar ele mora na água e bota ovos. Geralmente não tem gordura. Quando tem o gosto é geralmente horroroso. Me dá uma náusea nojenta. E tem os espinhos ainda. Eu acho que o único jeito seguro que existe de comer peixe é cru em uma porção de sashimi.

É claro que ainda existe a Paella e a moqueca e o pirão, mas isso não é só peixe, entende? É peixe mais um monte de coisa. Por isso que fica gostoso. Eu acho.

Mas de vez em quando, rola de comer uns filés de salmão, arenque, adoque, truta... que puta que pariu! Mas eu sei a coisa melindrosa que é fazer isso. Parece simples. É só um pedaço de peixe colocado em uma frigideira quente. Mas acontece que peixe é uma coisa que pega sal fácil, que passa do ponto fácil e que fica sem graça fácil. É muito fácil fazer peixe ruim...

Mais fácil ainda é escrever mal... puta que pariu, se é! É por isso que eu gosto disso. Aquela coisa de verso. Parece que o texto tá escorrendo na página em um filete. Poesia é que nem comida japonesa. Quem já se empanturrou de sushi e sashimi? É esquisito, você sente uma saciedade sóbria. Você sabe que você não agüenta mais antes de colocar um derradeiro sushi na boca. Quando você aperta aquela rodela de alga, arroz, peixe e coisinhas com os hashis você pensa conscientemente “não” e dá um gole na coca-cola (sim, eu como comida japonesa tomando coca-cola).

Acho bonito, saudável até, mas foi mal... eu prefiro escrever assim. Dá pra fazer picanha, feijoada, rabada... dá para entupir os olhos de colesterol literário. Eu acho legal.

Não acredito que o papel de quem escreve é fazer a vida das outras pessoas mais gostosa ou qualquer coisa. Eu acredito no "escreva e os outros que se virem" e concordo que seja uma tática suicida em um país com niveis de analfabetismo estratosféricos. Se existe um discurso em torno da ética e todo o blá-blá-blá "vamos livrar o mundo das cáries", eu me vejo no direito de ser sincero comigo mesmo.

Mas eu não estou aqui para fazer o papel que as professoras de português mal amadas
do segundo grau não fazem direito. Aliás, acho que quando você tem um propósito para escrever é o primeiro passo para se escrever mal. Seja panfletário, afetado, piegas ou burocrático.

Eu sei lá porque eu escrevi isso...

Um comentário:

Para Nóia disse...

Cara,adorei letras com peixe...
Pena que eu odeio peixe,mas comeria o que está escrito!!!