sexta-feira, agosto 24, 2007

O bonito é o esquisito

É tudo culpa do Duchamp. Agora todo pseudo-freak tem por direito o título de artista. Depois do ready-made parece que ficou fácil. É só ser esquisito. Qualquer coisa dodecafônica-dadaísta-psicodélica. É só fazer bagunçado.

Quer dizer, não é bem assim. Tem que ter um mínimo de estilo. Nem que se copie. “Eu faço arte para chocar!”, fala o artista com seu cavanhaque levantado. Ele carrega um porco na coleira enquanto segura seu conhaque com a outra mão. Temporada passada estava pelado em algum lugar. Agora ele pegou suas roupas e as colocou ao contrário. “Artista relê a própria obra!”, elogia o crítico do jornal.

Imagine um ovo cozido dentro de uma galinha. A galinha dentro de um carneiro. O carneiro dentro de um camelo. Os beduínos fazem isso em dias de festa. Se fizessem isso em um atelier e tentassem enxergar na gema o núcleo da vida que se expande por toda a cadeia alimentar e nos chega como alimento eles não eram beduínos seriam artistas. Beduínos vestidos em camisas de golas extravagantes e ternos com padrões que se você vir bem de perto formam uma figura em 3-D de um elefante equilibrando uma melancia na ponta da tromba.

É só fazer para chocar. Se for teatro o pai come a filha, se for dança é só simular um ataque epilético. Se for cinema ninguém deve entender. Até você dá conta! Pinte de patins, escreva de trás para frente e sem usar vogais. “Eu procuro mostrar com isso a dificuldade que tenho para escrever transformando isso em uma dificuldade de se ler”. É só procurar uma desculpa espirituosa.

Ninguém tem coragem de olhar para o busto feito com peças de carne e dizer que é feio. Só pessoas que não estão abertas a novas experiências diriam uma heresia dessas. Aqueles que não entendem de arte. Eles não conseguem ver o erotismo em uma série de fotografia intravaginal. A “virtuose do cunt-art” para eles é "só uma buceta por dentro”.

A verdade é que parece que o feio não existe mais. O belo parece vir de uma idéia meritocrática da arte. Logo, o teto da Capela Sistina, as gravuras de Picasso, as paisagens de Hopper e uma escultura de pulmão montada com quimbas de cigarro são a mesma coisa. É tudo uma questão de perspectiva. Mas tudo é uma questão de perspectiva. Se a minha vó fosse uma porca ela teria três carreiras de peito e seria exposta na bienal. E diante dos críticos e de toda vanguarda artística eu falaria da “desconstrução da imagem da vovó” e seria aclamado como o novo gênio da arte pós-moderna. Como se eu tivesse feito a minha vó com três carreiras de peito. Um golpe de mestre.

Na era da esquisitice, a rebeldia está na proporção áurea e na linha reta. O artista acorda, vai para o trabalho, chega em casa e dorme. Escreve um soneto de vez em quando.

Um comentário:

Para Nóia disse...

Realmente,puta que pariu cadê a arte nessa feiura toda...
Tem uns lances feios de que gosto,mas não precisa de nunhum jornalista fazer a critica inteligente para eu achar bonito ou feio...
Cara se minha vó tivesse três peitos eu venderia ela pro circo!!!