terça-feira, janeiro 10, 2006

Indie Rock Iraniano

É inevitável no curso de Comunicação Social nos depararmos com um dos textos mais antológicos da bibliografia de estudos em comunicação (que é diferente de communication research e da comunicologia, amigos jornalistas): “A indústria cultural”, de Adorno e Horkheimmer. Os autores mostram neste texto uma idéia que tínhamos de maneira pueril e nebulosa quando tínhamos uns 16 anos: a maioria das pessoas consome música como se fosse carne enlatada porque vivem à mercê dos meios de radiodifusão que se encontram integrados em um mercado aonde se inserem gravadoras e toda a patota.

Desta idéia vaga aos 16 anos tiramos que o boyzinho da sala não tem culpa de ser do jeito que é porque ele não foi abençoado com o bom gosto de berço e nem com o Napster (naquele tempo). Pobre coitado! De alguma forma doente alguns pressupõem a partir desta mesma idéia uma premissa de que a partir desta diferença no refinamento cultural (“Até parece!”) ele um dia poderá conquistar as garotas como o boyzinho com o passar do tempo (“ATÉ PARECE!”).

Pois então! Mesmo sem se dar bem com as garotas este garoto tem um refúgio da nefasta e perversa indústria fonográfica. Ele tinha no Napster o seu oratório (que depois foi o Audiogalaxy e depois o Kazaa e depois o eMule e depois o SoulSeek...) e nos pequenos shows que freqüenta os seus cultos. Tudo soa tão verdadeiro e puro. Tão sujo e tão ali perto. Dá para tocar, para conversar e até para xingar. Dá para ver as gotas de suor na testa do guitarrista. Afinal, ele é de carne e osso e não exigiu uma dúzia de toalhas brancas.

E porque tudo é tão assim? Por que? Por que seus colegas boyzinhos não estão no show? Porque é para poucos. Você sabe disso. Just a few, a pack of few ones. Você tem um grau para estar lá. Começou com o Nirvana (como todo mundo) passou para o Smashing Pumpkins, depois para o Pavement, daí pro Yo la Tengo e depois o White Stripes.

E hoje? O que você ouve? Afinal, você é aquilo que você ouve, concorda? (Olha o boyzinho!) O que você anda ouvindo? A última bandinha legal de Manchester? A nova banda em voga no cenário hard core de Nova York? A sensação do metal escandinavo?

Não! Isso é coisa para leigo, não é? O que rola agora é o indie rock iraniano! Você conheceu isso quando? Há umas duas semanas, né? Antes você tava ouvindo o quê? Era ska austríaco, né? Você já sabe de cor as bandas da cena ska de Viena. Agora deixa seu computador ligado 24 horas procurando as últimas novidades da cena indie de Teerã e Kadiz.

Por quê? Porque é para poucos, muitos poucos. E talvez você impressione alguém. Talvez aquela garota dissimuladamente tímida de óculos grossos (que não é aquela garota que o boyzinho do colégio pegava, mas já é alguma coisa). Ou talvez aquele carinha que falava de shoegazing marroquino no último showzinho que você foi. E então você falaria de todas as bandas iranianas que você conhece naquela rodinha. Os Al-shalajara, os Al-guidar, o Al-face... Todas as bandas do Irã.

Então você iria se lembrar de quando você descia do seu bloco para brincar de bafo no pátio e voltava para casa com um monte de figurinhas novas. E voltaria para casa (ou iria para a casa da menina de óculos grossos) repetindo para si mesmo: “É pra poucos!”. Afinal, você é aquilo que escuta!

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