segunda-feira, outubro 29, 2007

Instant Karma

Uma porta se abre no meio da penumbra subterrânea. O que você vê pela fresta é luz. Branca e ardida. Você sente uma brisa fria de ar condicionado. É um convite. A coisa no começo parece ser um oásis no meio do bafo do concreto a 40ºC. Lá dentro, os inúmeros pares de lâmpadas fluorescentes abastecem a imensidão branca. As paredes claras funcionam como um capacitor de luz. Bem vindo à sua dose de iluminação.

As paredes são duras. Sua cabeça é bombardeada por todos os lados por um som esganiçado e alto. O som fica reverberando da fórmica da parede até o gesso do teto, espalhando-se pelo piso de azulejo até o fundo da sala onde as janelas tremem. Você pode ouvir a saturação do som. Alguém está gritando por um microfone.

O microfone está na mão de uma senhora de jaleco branco. Baixa e gordinha, suas bochechas incham nos poucos momentos em que pega ar. As palavras saem de sua boca como uma grande massa. Em um volume tão alto que o som crepita eventualmente. Ela fala do fogo do inferno e da danação eterna. Ela fala de leprosos que perdiam parte da perna. Como um disco. Às vezes arranhado, às vezes de traz para frente.

De vez em quando você a ouve bufando. Depois de soltar todo ar de seu pulmão, ela finalmente respira. Após tantas revelações, preces e garatujas incompreensíveis, seu cérebro já implora por oxigênio. Uma dose quase narcótica de oxigênio. Na sala algumas pessoas estão agachadas com seus pulmões comprimidos. Pense em um número hipotético de ex-fumantes ou pessoas cardíacas. Lembre-se dos moleques no fundo da sala fazendo P-10 tentando desmaiar. Agora pense no número de pessoas gozando de uma saúde normal.

Não seria de espantar se você cair no chão com as pernas bambas. Se você tiver labirintite ficará tonto como se tivesse bebido tequila. Caso queira continuar em pé, não feche os olhos. E não comece a repetir os estribilhos enérgicos, que de quando em quando crepitam pelo ar. Ande e vá tomar uma água. Vá ao banheiro. Se quiser passar mais tempo por aí faça isso periodicamente. Mas seria melhor que você saísse.

Mas de forma alguma vá para a frente. Não vá para a luz. Talvez sua timidez seja sua única defesa. Assim seu sangue estará mais próximo do cérebro. Lá as pessoas taparão seus olhos com as mãos. Rodeadas em torno de você e arfando, não vai sobrar muito ar para se respirar. O som vem direto das caixas de som em direção a você. Você será bombardeado por um câncer a ser curado, uma família desestruturada pedindo socorro, um vício que te prejudica silenciosamente. Promessas de um futuro melhor e sem os fantasmas que te assombram.

Assim de perto, você sente o cheiro de alfazema da senhora que extende a mão na sua cabeça. Vestida com o jaleco branco, ela parece trabalhar em um açougue.

Talvez você caia de joelhos logo de uma vez. Comece a falar enrolado com seus olhos virem. Talvez você tivesse epilepsia e não soubesse. Talvez todas as pequenas porções de química restante no seu corpo resolvam voltar a correr nas suas minúsculas veias do cérebro. Mas não se apavore. Tudo vai acontecer muito rápido. Será o tempo de você sair logo recebendo uma benção. Talvez renovado, talvez com pressa.

Depois disso tudo, apenas pense duas vezes antes de queimar seus melhores discos no outro dia...

domingo, outubro 21, 2007

1,2,3... Testando...

Este teste é legal!

http://www.chuckpalahniuk.net/images/author/test/tender.jpg