quarta-feira, junho 23, 2004

3 livros para botar a sua opção de habilitação em Comunicação Social em cheque (e mais 1 para fazer você ver o quanto a carreira acadêmica pode ser legal e você não precisa obrigatóriamente se tornar um professor tapado e frustrado)

Paraíso na Fumaça (Chris Simunek): Imagine que o jornalismo pode fugir da maldita rotina de redação. Imagine que você é pago para fazer matérias no mínimo divertidas em lugares incomuns e entrevistar pessoas no mínimo excêntricas. Chris Simunek é o editor de cultivo da High Times, uma revista voltada para a maconha e a cultura em torno da droga. O livro é divertidíssimo e não pense que se trata de uma versão literária do Planet Hemp: o livro passa bem longe do típico discurso à la D2. Simunek parece ser daquele tipo que possui um canivete na língua, as narrativas de suas experiências estão recheadas de insights sarcásticos. Nota: Simunek era originalmente professor de inglês em uma escola pública em Nova York, não tinha formação em jornalismo e foi contratado graças a um momento de sorte...

A Publicidade é um cadáver que nos sorri (Olivero Toscani): Estamos em um momento na publicidade onde a criação está sendo praticamente posta em segundo plano. Não em questão de escopo, mas em questão de desenvolvimento. A cada dia que passa as propagandas tendem para uma publicidade quase pavloviana. Temos quase que algoritmos para a mídia impressa (“o aproach fica aqui, o slogan ali, a chamada acolá...”) e o mesmo ocorre nas propagandas televisivas (jargõesinhos, apelos sexuais, visual demasiadamente acéptico...). Olivero Toscani ataca esta publicidade morna, burra e insossa tão em voga atualmente.

A Experiência do Cinema (Ismail Xavier): Trata-se de uma coletânea de textos de teóricos clássicos do cinema. Ismail Xavier coloca para os viajantes de primeira viagem textos de Hugo Mauerhofer Dziga Vertov, Hugo Munsterberg, Edgar Morin, André Bazin, Jean Epstein e muitos outros . O cinema é analisado pela suas técnicas, suas estéticas, suas habilidades poéticas e pela reação gerada pela sua fruição. “Ah! Mas isso é acadêmico e chato!”. Ah! Não gostou pega uma pilha de SET e vai ler...

Apocalípticos e Integrados (Umberto Eco): Um verdadeiro canivete suiço para quem se interessa por estética, cultura de massa, semiologia e principalmente estudos de cultura. Uma série de ensaios de Umberto Eco onde ele trata os assuntos praticamente como um advogado do diabo, botando na parede os típicos argumentos da intelectualidade acerca da cultura de massa e os lugares-comuns geralmente veiculados pela indústria cultural. Destaque para “A estrutura do mau gosto”.

terça-feira, junho 15, 2004

3 Filmes...
(não se trata de uma lista...)


"The Rules of atraction" (Roger Avery): Imagine uma típica comédia adolescente. Tire os momentos de humor pastelão, a piequice nojenta, o casal romântico "àgua com açucar" e a moral do final ("Dar valor aos amigos, à vida, à família, yadda-yadda-yadda..."). Coloque sarcasmo, ironia, ceticismo, cinismo e um olhar praticamente perverso. Imagine um filme com todos esses ingredientes montado de uma forma extremamente atemporal, subevertendo às vezes até os limites da narração psicológica. Um filme onde os próprios personagens satirizam a condição fútil e banal de suas existências.

"Alexander Nevsky" (Serguei Einsentein): Eisenstein é extremamente cultuado não só graças ao grande clássico "O encouraçado Potenkin" como também pelo seus diversos ensaios e trabalhos em que trata sobre cinema (em especial sobre a montagem). Talvez o seu trabalho mais vivo seja "O sentido do filme" e talvez o filme onde sua teoria se apresenta mais claramente é "Alexander Nevsky". Não se trata de um filme mudo, como seu trabalho mais famoso, e ao contrário de muitos que pecaram pela "tentação romanesca" (o uso indiscriminado e até desnecessário dos diálogos) Einsenstein fez um ótimo uso dos recursos sonoros. Esse filme dá uma idéia bastante clara da sintonia em que os elementos de um filme (enquadramento, som, atuação....) devem ter no decorrer do mesmo, dando ao filme a coesão necessária para que este se apresente como uma peça maciça. Destaque para a antológica cena da "Batalha no Gelo" (cena que aliás é literalmente destrinchada quadro-a-quadro em "O sentido do filme").

"Natural Born Killers" (Oliver Stone): Esse já é prata da casa. Um dos filmes que estão entre meus favoritíssimos. Oliver Stone dirigindo uma estória de Quentin Tarantino e com trilha sonora por Trent Reznor... precisa de mais alguma coisa? A defesa encerra!

quinta-feira, junho 03, 2004

Das citações

Citações são as coisas que eu mais odeio em um texto. Logo que vejo uma citação já vejo 60% do crédito que o texto pode ter descendo pelo ralo.

É como se o narrador virasse para mim e falasse "Eu estou inseguro para provar o meu ponto de vista, então eu resolvi chamar esse "sr. Fodão" para me dar algum substrato. Você não vai discutir com o "sr. Fodão", vai?"

É um exemplo clássico de comportamento típico da cultura P.I.M.B.A. (Pseudo-intelectuais Metidos e Boçais Associados)... Mas mais P.I.M.B.A. é o fato de ainda se preocupar e procurar a maldita citação. "Eu procurei no Google, na biblioteca... Não achei essa maldita citação!". O "pesquisador" tira o escalpo do citante, que parte envergonhado (/quit).

Culpa das malditas agendas. Todo o dia ela abastece o repertório de milhares de "papagaios intelectuais" com sua quantidade diária de aforismos, versos e informações categóricas. É como se o China in Box vendesse como o Mc'Donalds e todos bilhetes de Biscoitos da Sorte fossem escritos por uma linha de produção composta por crianças superdotadas miseráveis de Singapura. Já pensou que seu surto de pretensão intelectual pode ser fruto do trabalho forçado de seres humanos que estão sacrificando sua infância por um prato de comida?

Você já é P.I.M.B.A., que custa ser politicamente correto?